Para onde se encaminha grande parte da humanidade? A serpente, cada vez mais forte e traiçoeira, continua diariamente a preparar armadilhas e enredar almas. O mais grave é ver como, apesar dos gritos de alerta transmitidos do passado pela sabedoria e pela tradição, mais e mais pessoas continuam caindo nas redes do enrolamento. Para onde estas almas estão sendo conduzidas? Com que intensidade e porque tão apressadamente as oportunidades de experimentação humana se ampliam e se aceleram? Quem ainda tem tempo para pensar no essencial da vida? O que gera a necessidade de tudo, inclusive orações e bênçãos, estarem sendo compradas e vendidas?
A grande maioria das pessoas que compõe esta geração tem dificuldade de absorver – ou será de compreender? – a sabedoria transmitida pelo passado. Tudo pode ser inventado ou reinventado – afirmam. Tendo por base este axioma – por sinal falso – saem por aí remontando tudo. Esquecem que o que possuímos de científico, cultural, social, político e religioso foi possível como consequência da herança que nos foi deixada por nossos antepassados e pela tradição: A Herança Humana. Ela é fruto da sabedoria e de esforços grandiosos realizados no passado que garantiram o presente e – se deixarem e não continuarem o desmonte – garantirão o futuro de nossos filhos e netos.
No que concerne à vida religiosa e espiritual da humanidade a tendência de negação da tradição e do passado torna-se mais evidente. Observem o que vem acontecendo de renovação no ocidente em setores importantes da vida religiosa. Parece até que a vida religiosa teve seu início agora. Será que Cristo teve que esperar mais de 1900 anos para cumprir a promessa de derramar o espírito sobre todos? Será que apenas esta geração tornou-se digna deste derramamento? Ou será ainda que temos um novo – ou milhares de novos – Simão o grande Atos (8,10). É preciso não esquecer que a tal Simão “todos davam ouvidos, do menor até o maior, comentando: Este homem é o poder de Deus, chamado o Grande.” Talvez seja melhor avaliar se não é mais prudente dar ouvidos a Felipe – Atos (8,5). Não eram aparentes e não sumiam com o tempo as curas realizadas por Felipe. Não há necessidade de nos estendermos sobre este assunto. Para poucos sussurros são gritos, para milhões gritos são sussurros inaudíveis.
Projetar o Mundo de Deus similar ao mundo manifestado nos parece mais um alinhamento ao vede e vinde do mundo que o vinde e vede de Deus. Como substância da esperança, a fé é prova das coisas que não se vêem. Neste caso, coisas que não estão sendo vistas pela imaginação ou pelos desejos e, portanto, não podem excitar o caminhar. Na caminhada da fé, não é o vede que atrai o vinde e sim a alma que caminha para poder ver. Caminhar para onde? Abraão também, como todos que hoje caminham na fé, não sabia para onde ia. Apenas sabia que era verdadeira sua caminhada. Seguia a voz insonora que conduziria à bem-aventurança. Abraão, o pai da fé, é, talvez, o exemplo maior do caminhante que não caminhou seguindo orientação de sua mente. O primeiro a seguir em frente sem vislumbres ou excitações mentais. Caminhou orientado apenas pelo centro onde a fé, e não as crenças possui sua morada. Abraão caminhou orientado pelo vinde e vede.
A recomendação “orai e vigiai” feita por Jesus toma uma dimensão extraordinária nos dias atuais. O mundo e seus senhores possuem cada vez mais influência sobre as almas. Hoje, escapar sozinho e as suas expensas das influências do mundo é quase impossível. No entanto, é preciso. Os abismos que o mundo cava a todo o momento estão se transformando em armadilhas poderosas. Com a moral “flexibilizada” e sem a proteção de Deus milhões irão mergulhar em abismos pessoais dos quais talvez não consigam voltar. Buscar a Deus e a paz que desta busca emana passa a ser prioridade das almas. Fora isso, a resposta ao excesso de prazer, ofertado pelo mundo a cada dia, será o excesso de dor. É inexorável o movimento do pêndulo: paixão grande, depressão grande.
O mundo dá, o mundo toma. Com a gente fica apenas o que construímos interiormente. O que está fora de nós continuará fora de nós. É preciso evitar que o mundo transfira seus abismos para nós.