terça-feira, 28 de setembro de 2010

Eu DEUS?

Quem é você? Quem é Deus? Será que, mesmo sem desconfiar, lá no fundo você não acredita que, se existe um Deus, ele é você. Ou pelo menos, igualzinho a você. Ou, na pior das hipóteses, parecidíssimo com você. É necessário meditar um pouco sobre o que significa criado “à semelhança de Deus?”. Com certeza, se buscarmos expressar no nosso viver cotidiano esta “semelhança”, iniciaremos uma caminhada cujo destino certo é o reencontro feliz com Deus.

É preciso descobrir como, e onde, aprender sobre o agir de acordo com esta “semelhança”. Mas, antes, é necessário querer com toda a força da alma caminhar para a salvação e, por conseqüência, para uma vida eterna e bem aventurada junto a Deus. O tempo que se tem para caminhar, e chegar, está ficando apertado. Exige-se uma corrida contra o tempo para não se ter que ficar eternamente no tempo. Então, onde buscar esta semelhança? Ser semelhante é ser como, parecido com. Ser parecido com, jamais significará ser igual a. Quando a serpente disse a Adão e Eva “comei deste fruto e sereis como Deus” não enganou a humanidade por eles representada. Se houve o errado entendimento que seríamos iguais, e bilhões continuam acreditando nesta igualdade, cometemos o erro primordial que teve como conseqüência a revolta, a expulsão da proximidade de Deus, a queda, a encarnação do verbo, o sofrimento na cruz e a ressurreição que abriu novamente a porta, mesmo que estreita, para salvação e para o eterno viver em bem-aventurança. O mergulho incessante e continuado no mundo da manifestação é ainda suportável pelo fato da porta estreita da salvação ainda estar aberta. Esta porta aberta torna real a esperança de salvação. Mesmo que, em poucos, a personalidade esteja muito distante para perceber as manifestações da alma, esta sabe que, ainda por certo tempo, a porta da salvação estará aberta e vibrará de alegria e contentamento com a esperança real de salvação e de retorno à proximidade de Deus. É esta esperança, muitas vezes apenas sutilmente percebida, que torna suportável o viver no mundo das formas, dos paradoxos e da alternância dos opostos.

Onde aprender a ser cada vez mais semelhante? É muito importante não projetar um Deus semelhante a nós. Não construir um Deus à nossa imagem e semelhança é, com certeza, um passo definitivo na direção da salvação. Estaremos, também, deixando de praticar um dos erros mais comuns cometidos por aquele que ansiando vigorosamente, ou não, a salvação busca na mente as respostas para um santo viver. As respostas dadas pela mente, quase sempre, estão acompanhadas de emoções, desejos de poder, de ter e de ser. Respostas dadas a partir de construções mentais não são boas conselheiras para uma caminhada espiritual que conduza verdadeiramente a Deus. É acreditando nestas construções mentais que extraímos das escrituras o que para nós serve e o que para nós não serve. Cria-se então um EU DEUS todo particular que, misturando-se aos milhões já criados por outros, caminha para fortalecer o ego de seu “criador”, mantê-lo afastado de Deus e repetir a transgressão adâmica. Quem é criador? Quem é criatura? A mente cria “verdades” e nos aconselha a nelas crer. A fé mergulha na verdade e nos faz saber em que devemos crer.

Diziam-me que a Bíblia é uma carta escrita sob inspiração de Deus para nos permitir viver segundo a semelhança concebida no momento da criação. Ela nos possibilitaria, também, a redenção pós-queda. Levei muitos anos, mais de trinta e cinco, viajando por filosofias orientais e práticas ocultas orientais e ocidentais para descobrir que me diziam a verdade. Hoje posso dizer – após esquecer o que achava que sabia – que ter a Bíblia como caminho, sem achismos e sem reducionismo teológico, vem me proporcionando a abertura de um novo e especial centro de conhecimento sobre o qual a mente, e por conseqüência as coisas e os gritos do mundo, passa a ter sua influência cada vez mais reduzida.

As crenças começam dar lugar à fé. Os segredos iniciam suas caminhadas em direção aos mistérios. O eterno começa a deixar de ser moldado pelo mutável e insaciável finito e inicia-se o alvorecer do vinde que começou antes do vede.

Enfim, a caminhada começa a se dar sob os auspícios da paz e da real esperança.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

As Torres se multiplicam

De forma inconsciente, ou mesmo consciente, multiplicam-se pelo mundo afora sistemas e métodos ditos espirituais que garantem ser possível conquistar o céu por meio de forças adquiridas e desenvolvidas na terra. É Babel do passado que, mesmo com a dramática advertência de seu simbolismo, acende em milhões de almas a certeza de que isso, na verdade, sempre foi possível. Muitos dirão que o sucesso de tal empreitada depende apenas que se evite repetir certos erros. Sinceramente, em determinados momento me vem a certeza de que todo o sofrimento humano possui sua origem no orgulho e na vaidade. Acreditar que se pode conquistar o céu por meio de forças adquiridas e desenvolvidas na terra caracteriza-se, com certeza, na mais grandiosa das ilusões humanas. Ilusão que, infelizmente, é partilhada por parcela significativa dos humanos. Se muitos não forem ajudados a desfazê-la pode significar o mergulho no eterno sofrimento. O problema é que as torres crescem com cada novo tijolo colocado. Com este crescimento amplia-se, também, a ilusão de que cada dia está mais próximo o objetivo almejado: chegar a Deus. Será?

É bom sempre repetir: somos criaturas e não criadores. Fomos criados à imagem e semelhança. Obter a síntese entre criação e evolução, aliás, obter a síntese entre os opostos, viabiliza que o olhar sobre nós mesmos se dê sem inflação. Considerar como nascimento o momento da encarnação é, talvez, o maior erro filosófico que cometem um grande número de pensadores. Não será neste mundo manifestado que as consciências irão experimentar a eternidade. Nada neste mundo é eterno. Nem ele mesmo. É um mundo escola onde as principais disciplinas são: amor ao criador, amor ao próximo, humildade e crescimento moral.

Existe uma fundamental diferença entre construção e crescimento. Constrói-se facilmente, inclusive nova personalidade. Existem técnicas, não importa quais, que atuando sobre centros pessoais passam a impressão, quase certeza, que certos estados negativos foram eliminados e positivos acrescentados ao viver. É pura ilusão. O que resulta de processos construtivos é, e será sempre, perecível. O que é deste mundo fica neste mundo. O que o mundo empresta, não dá, seja material, pisicológico ou mental, é do mundo. Nunca será nosso de verdade. É preciso ter muito cuidado em nossas buscas. Muitas vezes caminhamos resolutamente em direção ao que acreditamos ser verdadeiro e, depois de certo tempo, percebemos sobrar apenas a desilusão do esforço inútil.

O troféu final das caminhadas orientadas pelo mundo, mesmo que aplausos aconteçam durante a mesma, será sempre a desilusão do esforço inútil. A excitação mental é a arma utilizada pelo mundo para atrair os caminhantes. De forma direta, ou indireta, a mente após informada é capaz de imaginar o que foi prometido ao final da caminhada. É o vede e vinde. Vede, você vai encontrar as seguintes coisas, vinde. Descrições que a mente seja capaz de perceber, e imaginar de forma ampliada, são sempre do mundo. Servem tanto para incitar a caminhada em direção a uma bela praia como a paisagens espirituais fugazes.

O vinde e vede é o caminhar da fé. A mente não participa, e nem pode participar, desta caminhada. Sem vislumbre, sem excitações, sem coletivismo, sem tecnicismos, sem construções, solitária e sem ganhos aparentes. É assim a caminhada da fé. Entretanto, nela não há destino incerto. O caminhante sabe o que irá, com certeza, encontrar ao final da mesma. O que chega ao final desta caminhada não tem como dizer o que encontrou. O mundo dos “vivos” ficou definitivamente para trás.

Não é raro iniciar-se certas caminhadas esperando encontrar ao final poderes, aplausos e ampliação da influência sobre os outros. É preciso fugir destas caminhadas. Nada desencaminha mais que aplausos e honrarias. Existe uma máxima oculta que diz: “quando a plena sabedoria passa não existe ninguém para aplaudir”.

O uso de técnicas para ampliação de poderes pessoais - matérias, pisicológicos ou mentais – servem apenas para aumentar a ação individual sobre o mundo. O que de material, pisicológico ou mental se leva quando deixamos este mundo? “Esquecido de tudo desci, esquecido de tudo subi”.

É pelo desejo de ter, de ser e de poder que nascem muitos dos construtores de torres. Multiplicam-se aos milhares embalados pela grande ilusão de poder olhar o mundo do alto de suas “glorias”. Quantas torres continuam em pé? “O tempo trás, o tempo leva”. “Vaidade das vaidades. Tudo é vaidade. O que foi será, o que se fez, se tornará a fazer: nada de novo debaixo do sol!” – diz o Eclesiastes.

Construir torres é próprio dos que buscam a Deus sem afastar os olhos do si mesmo. E, infelizmente, estes se multiplicam aos milhares.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Tentações Serpentinas

Escrevi recentemente o artigo “Seduções Serpentinas” com a intenção de tentar mostrar a sedução exercida por certas ideologias espirituais que, tendo o mergulho no mundo manifestado e o tempo como centro de suas concepções filosóficas, atraem milhões para um destino eterno incerto. O mundo é extremamente forte e continua se fortalecendo. Certas filosofias que apresentam Deus infinitamente tolerante com os negativos comportamentos mundanos da humanidade sempre irão atrair milhões de almas. É preciso não esquecer que a prática religiosa tem por base apenas um propósito: religar o homem a Deus. Se pessoas têm as bases de suas práticas religiosas alicerçadas em algo afirmado por alguém que ratifica e reforça suas negativas naturezas, talvez estejam caminhando para longe de onde esperam chegar. Não cabe neste artigo discutir de quem em último caso é a responsabilidade por falsas caminhadas. Uma coisa é preciso dizer: ninguém chegará a Deus nos ombros dos outros.

É tentador um sistema filosófico que se adéqüe ao que se pensa, ao que se quer e ao que se é. Para muitos é o melhor dos mundos. Não existe problema se mais e mais adaptações forem feitas para adequar a vida religiosa à forma individual de pensar e viver. Será assim? Será que o propósito do viver é a ratificação da “grandeza individual”? A serpente estava certa quando disse: ”e sereis como deuses”?

As tentações serpentinas que orientam os que as seguem a afirmar que as coisas devem ser como se pensa e se é, toma contornos de tragédia, pessoal e coletiva, quando se tornam sistemas filosóficos seguidos por multidões. As tentativas de se adaptar a moral religiosa tradicional à moral social esquecem a base em que as religiões se fundamentam. Tais tentativas - apresentadas muitas vezes como reclamo da sociedade – têm sido muito intensas principalmente no que concerne à Igreja Católica. Esta, possuindo sua essência nos evangelhos, tem se mantido fiel à sua compreensão dos mesmos. Muitos são os questionamentos tornados públicos no sentido de “modernização” da tradição católica. Entretanto, não se pode esquecer que a moral que emana do eterno é eterna. Não está sujeita a costumes e comportamentos de época. Os apelos para que se busque o crescimento a qualquer custo não encontram guarida numa religião que se preocupa verdadeiramente com a vida eterna dos fiéis que a seguem. Os seguintes questionamentos são listados - muitas vezes dentro da própria Igreja Católica - “como necessidade de discussão que leve à modernidade”. Vejamos alguns:

O divórcio e o novo casamento, o sexo pré-marital e extraconjugal, controle da natalidade, aborto, homossexualidade, masturbação, a ordenação de mulheres e o celibato.

Reparando-se bem – à exceção do item que trata da ordenação de mulheres - todos os demais estão relacionados à questão sexual. A Igreja Católica defende, e vai continuar defendendo o que biblicamente considera ideal para o homem, para a família e a vida. Não poderá – em nome da defesa da vida – aceitar a liberalização do aborto. A despeito das separações de milhões de casais pelo mundo afora não vai abrir mão de ter como ideal o exemplo bíblico da Sagrada Família. Isso só para citar alguns exemplos.

Muitos dos movimentos que defendem o debate em torno dos assuntos citados acima trazem como argumento principal a diminuição do número de católicos no mundo. Mesmo considerando-se a necessidade de evangelizar mais e mais pessoas, é o pior dos argumentos. A Igreja centra seus objetivos na salvação. A salvação - com base bíblica - é focada na caridade, no inegoísmo, na ausência de vaidade, e no respeito à vida e ao próximo. A evangelização que não está inserida neste contexto desencaminha muito mais que salva. De que adianta uma multidão que, no fundo, continua seguindo a si mesma?

A serpente não cessa de gritar e milhões de acreditar: você é o maior, o melhor, o mais sábio. Você tem o direito de ter o prazer que desejar, afinal você é o dono de teu corpo e de tuas emoções. Se houvesse sabedoria no mundo ele seguiria tuas orientações e conselhos. Blá, blá, blá...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Seduções Serpentinas

É fato que grande parte da humanidade – principalmente aquela seduzida pela filosofia monista – sonha em viver num mundo onde o homem seja Deus. Considerando-se que o homem é Deus – como apregoam os movimentos que defendem a fusão substancial do homem e Deus – a capacidade de auto-redenção é latente e real em todos os humanos. Alguns pensadores extrapolam os limites desta auto-redenção incluindo todos os seres animados e até inanimados. Então, desde que todos os humanos são deuses, a evolução os conduzirá um dia a um mundo livre de deuses falsos – segundo eles hoje existentes em profusão - e a humanidade estará finalmente redimida. Redimida? Neste caso, de que? Quando? Quando pedras virarem plantas, plantas animais, animais seres humanos inferiores, estes últimos seres humanos esclarecidos e ao final Mestres. Para por aí ou a evolução não tem fim?

A evolução é, e será sempre, um produto do tempo. É pensar pequeno deixar com o tempo – tão ilusório, irreal e perecível como nós – toda a esperança de redenção humana. O tempo só existe no mundo da manifestação. Não existe na eternidade. Infelizmente para muitos, os problemas filosóficos da humanidade jamais se resolverão no mundo do tempo e da manifestação. Este é um mundo de princípios, leis e forma. Existe algo mais perecível que a forma? Existe alguma forma que possa ser considerada eterna? Quando se diz que matéria e o espírito são eternos, muitos sacodem a cabeça em sinal de desaprovação. Confundir o que é denso – mesmo o extremamente denso - com matéria é um grande erro filosófico. A matéria está muito aquém do que é perceptível pelos sentidos. A forma não é matéria e muito menos espírito. È limitada, finita e perecível. Espírito e matéria são eternos. É muito fácil confundir a porção ínfima que os espíritos – ou as idéias – tomam da matéria para poder estar no mundo da manifestação com a própria matéria. É também muito fácil confundir formas extremamente sutilizadas com espírito. Espírito e matéria podem estar na forma, mas jamais serão a forma.

O mundo em que hoje temos nossa existência não é o mundo de Deus. Vivemos hoje no mundo da serpente e do enrolamento. É um mundo de sedução? Sim, é. Um mundo onde a serpente continua seduzindo almas e desencaminhando vidas. A serpente continua repetindo – agora cada vez mais forte - e bilhões acreditando: “sereis como deuses”. É preciso se perguntar por que as oportunidades que viabilizam a experimentação individual de tudo o que existe no mundo estão se ampliando. O que falta experimentar? O que sobrará deste exagerado gasto da herança humana? Que farrapos humanos restarão do excesso de experimentações? Para onde estão sendo conduzidas as almas? Enfim, quem as está conduzindo? São indagações pertinentes que precisam ser feitas por todos que anseiam pela verdade. Estamos perto do fim ou do começo da grande e última viagem que pode viabilizar a bem-aventurança humana?

Não nos cabe dar as respostas. As seduções serpentinas se ampliam e o juiz já se prepara para avaliar as ações realizadas pelo juízo que as seguem.

Sou criador ou criatura? Capaz de me salvar ou preciso ser salvo? Independente das respostas a vida será eterna. A diferença é que ela será eterna na bem-aventurança ou no sofrimento.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A Viúva de Sarepta

Li alguns artigos na Internet vinculando a narrativa bíblica que envolve o Profeta Elias e a viúva de Sarepta (I Reis 17:9) à prosperidade que deve acontecer para aqueles que pagam o dízimo. Dizem que com este pagamento, o mínimo que se pode ganhar é a manutenção do pouco que se possui, no caso desta viúva “um resto de farinha e azeite”. Não vou neste artigo entrar no mérito do pagamento, ou não, do dízimo. Se assim procedesse, estaria obrigado a ser extenso tecendo comentários sobre a Velha e a Nova Aliança, o que diferencia Crença e Fé, dízimo que se paga com dinheiro ou com serviço ao próximo, a escolha pessoal envolvendo as coroas de ouro ou de espinhos e o estar submetido à Lei ou à Graça. Neste caso específico, por se tratar de uma viúva, estaria obrigado ainda a ampliar meu texto analisando determinadas passagens bíblicas – (Lucas 7,12), (Mateus 23,14), (Marcos 12,40) – para citar apenas algumas, em que Jesus demonstrava profunda piedade e compaixão pela viuvez. Não poderia ser diferente considerando-se as dificuldades de sobrevivência que cercavam a vida de uma mulher atingida pela viuvez numa sociedade extremamente paternalista como era a sociedade da época. Voltemos a Elias e a Viúva de Sarepta.

No nosso entendimento, tal episódio, e as lições e mistérios que ele encerra, não deve ser simplificado ao ponto de ser utilizado como justificativa ao pagamento de dízimos. Aliás, dízimo pago em dinheiro, considerando-se as bases estabelecidas para a Nova Aliança, precisa ser analisado de forma profunda, sem personalismos e muito criteriosa. Senão vejamos:
Em verdade vos digo: muitas viúvas havia em Israel, no tempo de Elias, quando se fechou o céu por três anos e meio e houve grande fome por toda a terra. Entretanto a nenhuma destas outras foi mandado Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia (Lucas 4,26). “eis que eu ordenei ali a uma mulher viúva que te sustente”. (I Reis 17:9). Elias não estava ali para dar, mas sim para receber. Para ser sustentado. A ação da viúva de sustentar Elias se deu por obediência a uma ordem direta de Deus – “ordenei ali a uma mulher viúva”. Não foi Elias que disse à mulher que o sustentasse. Foi o próprio Deus. E por que apenas a ela Elias foi mandado? Será que a questão do merecimento, tão contestada por muitas denominações cristãs, não precisaria ser corretamente avaliada? Porque apenas a esta viúva Elias foi mandado?

 Poderíamos estender estas indagações. Por que Raquel? Por que especialmente esta viúva em Sarepta? Por que Isabel? Enfim, por que Maria? É extremamente complicado tentar explicar a questão do merecimento quando o nascimento no mundo da manifestação é confundido com o do mundo da criação. A síntese – e ela existe – entre criação e evolução nunca se processará em consciências que separam a unidade em lados irreconciliáveis. A palavra bíblica jamais se completará em consciências que não conseguem compreender o porquê da morte do Cristo entre o “bom ladrão” e o “mau ladrão” ou que vejam este acontecimento apenas como fato histórico e, fora a presença de Cristo, os outros personagens fruto de casualidade. O mesmo pode se dizer dos que não são capazes de compreender que existe uma síntese entre a Velha e a Nova Aliança, entre o Velho e o Novo Testamento e dízimos pagos com dinheiro ou com a verdadeira caridade. Talvez os versículos abaixo se proponham, também, a dar indicações de como deve ser pago o dízimo na Nova e Eterna Aliança:

 “Então o Rei dirá aos que estão à direita: – Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim”. – (Mateus, 25 – 34,36)

domingo, 6 de junho de 2010

Com as asas de Ícaro

Assim pensa realizar vôos ilimitados parte significativa da humanidade. As crescentes realizações científicas, a ampliação das oportunidades humanas e seitas que apresentam Deus como almoxarife das requisições emanadas das determinações dos homens podem formar que tipo de consciência? É muito provável que, de forma apressada, haja superavaliações do potencial humano com drásticas e sofridas conseqüências futuras para os que assim procedem. O mais sério, é que a história de Ícaro – que pretendeu voar até o Sol com asas feitas com penas e cera, que derreteu e o derrubou - está aí como grande advertência das limitações humanas. O homem foi à Lua! Podem gritar fortemente alguns. É verdade e com certeza chegarão muito mais longe, direi eu. Suas realizações, entretanto, se darão sempre no mundo da dualidade manifestada esteja ela nada, pouco ou muito sutilizada.

Vivemos neste mundo – do tempo e da forma – mas não somos deste mundo. Nossa pátria não é aqui. Distâncias consideradas infinitas à nossa percepção nada são no mundo onde, em realidade, temos nossa pátria. Meu reino não é deste mundo - disse Jesus. Como filhos de Deus, também nós nada temos com este mundo. Estamos aqui como estrangeiros por escolha nossa. Um dia – a exemplo do Filho Pródigo – pedimos nossa parte na herança paterna e nos atiramos neste mundo. É o eu sou, o eu posso e o eu tenho que fixam a consciência dos homens no mundo da manifestação e determinam que muitos realizem o vôo de Ícaro levando milhões a abandonarem-se definitivamente ao abraço do mundo e, muitas vezes, à morte.

Longe de mim ser contra, ou mesmo passar a impressão de ser contra a ciência. Não sou e jamais serei independente de onde ela possa chegar e, com certeza, será bem mais longe de onde hoje já chegou. Sei que ela no mundo finito do limitado, do criado, da forma e das leis que a regem pode passar a impressão que nada a limite. Mas, será sempre impressão. Seus limites, entretanto, estarão sempre no domínio do finito e perecível. Daqui não passarás – repete a Sabedoria Eterna – mesmo que o ponto onde este axioma passe a ter validade esteja ainda muito distante.

A pequena ciência normalmente só acredita em si mesma. Deus não faz parte de suas meditações e muito menos de suas indagações. É ela que acredita na possibilidade de com penas coladas com cera ao próprio corpo ser possível voar até o Sol. É presunção e utopia pura. Os objetivos que persegue não precisam possuir qualquer coloração humanista. É uma espécie de jogo mental que pretende satisfazer pequenos e limitados egos. São os Ícaros modernos que tentam voar para o infinito sustentados apenas por suas limitadas mentes. Qual será o resultados deste vôo?

A grande ciência não deixa Deus e as reais necessidades humanas fora de suas preocupações e indagações. Precisa realizar, mas sabe - mesmo realizando o aparentemente impossível - que a humanidade não pode viver sem Deus. A humanidade precisa dos homens e de Deus. Já possui o amor incondicional de Deus, mas precisa do amor dos homens. A busca científica necessita levar sempre em consideração o “amai o próximo como a ti mesmo”. É este olhar para as reais necessidades humanas que pode assegurar à ciência a certeza que em seus vôos não irá esquecer a recomendação de Dédalo: para não voar tão rente o Sol.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Perolas à margem da estrada

Dezenas delas vão ficando pelo caminho sem serem sequer vistas. Estão ali como um grande presente. O caminhante não as vê e vai deixando para trás o que Deus amorosamente preparou para ele.

É preciso lembrar-se de Natanael. Quando os discípulos de João disseram a ele que haviam visto o Cristo, lembras o que ele disse quando soube que aquele que diziam ser o Cristo havia nascido em Nazaré? “De Nazaré pode sair algo de bom?”. Esta foi a frase de Natanael. Dá para imaginar o tamanho da pérola que ele ia deixar ao longo de sua caminhada? Deixar de conhecer o Cristo por acreditar que em Nazaré nada de bom poderia nascer. Ainda bem que mesmo desconfiado Natanael foi procurar conhecer o Cristo.

Por este acontecimento – João 1, 46 – podemos avaliar o quanto ser preconceituoso – qualquer que seja o tipo de preconceito - pode ser prejudicial ao homem espiritual. Preconceito, discriminação, conceitos formados tendo por base verdades alheias, pequenas porções da verdade espiritual engarrafadas como verdade suprema e egos extremamente auto-avaliados. São lodos que escondem as pérolas que o Deus dá ao cristão e se entristece por serem deixadas à margem da estrada.

Será que já nos perguntamos porquê a história de Natanael está narrada no capítulo primeiro do evangelho de São João? Será que quer dizer que enquanto o lodo citado acima não for removido e limpo a caminhada espiritual verdadeira não começa?

Deixo a resposta contigo.

A Serpente do Éden não disse a Adão e Eva – representantes de toda humanidade no drama cósmico da criação – que seriam deuses. Disse que seriam “como deuses”. É bem diferente. Será que toda a causa do preconceito, e talvez de todo o sofrimento humano, não reside no fato da humanidade continuar acreditando no que a serpente disse? Muitos continuam acreditando que são deuses. Será que são?

A traça não come tesouros espirituais. Eles são permanentes

terça-feira, 25 de maio de 2010

O Catolicismo na Itália

Pesquisa realizada na Itália traz dados importantes sobre o catolicismo naquele país. 87,8% dos italianos declaram-se católicos. Entretanto, apenas 36,8% afirmam ser praticantes. A pesquisa mostra, também, que 68,5% são a favor do divórcio e 77,8% não concordam com a proibição da comunhão para divorciados e para os que constituíram nova família.

No caso da posição relativa ao aborto os dados são muito significativos: 83,2% são a favor em caso de perigo de morte para a mãe e 72,9% são a favor em caso de anomalia grave e má formação do feto. Mostra ainda a pesquisa que 65,1% mostram-se favoráveis em caso de violência sexual, mas apenas 18,6% declaram-se a favor quando apenas o desejo de não ter filhos move a ação abortiva.

Uma maioria significativa - 76,2% - diz ser a oração que os leva à Igreja. Menos de 17% dizem ir à Igreja seguindo uma tradição familiar. Muitos declararam a necessidade de ir à Igreja buscar força para enfrentar os momentos difíceis da vida.

Com relação aos sacramentos a grande maioria declarou o batismo seguido do casamento e da confirmação – nesta ordem – como os mais importantes. A confissão foi citada como de importância menor.

A maioria simples diz acreditar em milagres. O restante prefere não acreditar dizendo que são eventos naturais para os quais a ciência ainda não encontrou explicação.

Mais de 30% declararam ir à missa todos os Domingos.


sexta-feira, 21 de maio de 2010

A mensagem das ovelhas

Conduzir com segurança, propiciar os melhores pastos e proteger contra ameaças. Isso faz o bom pastor que ama suas ovelhas. O Cristo disse: “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e elas conhecem a mim.”

Observem as ovelhas pastando. Não se mordem, não dão coices e não se agridem. É uma completa paz. Imaginem nos tempos antigos um pastoreio de ovelhas. A paz a tranqüilidade. Tudo acontecendo sob o olhar atento e reflexivo do bom pastor. “Um só rebanho e um só pastor”. É uma imagem forte de um simbolismo impar. Uma lição de vida em paz e harmonia que oferece caminhos para a construção de uma sociedade justa, equilibrada, respeitosa, harmônica, igualitária e cooperativa. Talvez não seja apenas coincidência que dezenas de grandes e virtuosos homens passaram antes pelo pastoreio. Anos e anos de pastoreio construíram o homem bíblico forte, justo e sensível chamado Davi. Para dar apenas um exemplo.

A mensagem das ovelhas e do pastoreio é uma mensagem forte. Foi escolhida pelo Cristo como a mensagem filosófica de paz e harmonia perfeitas. Contém em si mesma toda a postura cristã. Amor a Deus e amor ao próximo sem competição e sem espírito de grandeza. Uma vida de amor ao próximo e a Deus. É isso que Deus espera de nós. É isso que nos torna filhos de Deus e que dá acesso a porta por onde entram as ovelhas. “Em verdade, em verdade vos digo: Eu sou a porta das ovelhas”.

São as ovelhas o motivo do grande sacrifício de Jesus: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas”. “Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou”.

Será que sentimento de separatividade e de grandeza pessoal, por menores ou por quaisquer razões que sejam, podem dar condições de ver e reconhecer o bom pastor? É preciso aprender a viver com a mensagem das ovelhas. Vivendo como irmãos, igualitariamente, amando e seguindo o bom pastor podemos encontrar e entrar pela porta das ovelhas do senhor. “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagens”.

Um só rebanho, um só pastor e um só pasto. Encontre o bom pastor. Encontrará, também, as ovelhas irmãs e paz. Muita paz.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Vaticano Analisa Aparições em Medjugorje

Uma Comissão do Vaticano foi montada para analisar as alegadas aparições marianas em Medjugorje, na Bósnia-Herzegovina. Até o momento o Vaticano não avaliza estas aparições como sendo de Nossa Senhora. Uma primeira reunião foi realizada em final de março.

A Assessoria do Vaticano não deu detalhes sobre esta primeira reunião. Apenas divulgou o nome dos membros que compõem a comissão que foi montada em 17 de março a pedido dos bispos da Bósnia-Herzegovina. Em seguida a Congregação para a Doutrina da Fé comunicou haver estabelecido a comissão internacional para investigar as alegações de seis jovens que dizem que Maria aparece para eles diariamente desde de 1981.

Milhares de pessoas viajam a cada mês para a pequena cidade de Medjugorje para orar mesmo não tendo sido feita nenhuma declaração formal da Igreja Católica sobre a autenticidade das aparições.

A comissão formada com componentes de peso na hierarquia romana, conta entre seus membros com O prefeito emérito da Congregação para Evangelização dos Povos, o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos e o Cardeal Vinko Puljic de Sarajevo, na Bósnia-Herzegovina, só para citar alguns.

A declaração formal de veracidade que a Igreja dará, ou não, neste caso será precedida, com certeza, de profunda e criteriosa investigação. Até a conclusão das investigações muitos católicos oram e esperam com ansiedade o resultado da mesma.

Fonte: National Catholic Reporter

quarta-feira, 19 de maio de 2010

As tentações

É um combate a vida do homem sobre a terra – Jó(7,1). Os antigos também dizem que não se pode viver no mundo sem trabalhos e tentações. Não importa o nome que tenham as forças que procuram nos enredar cada vez mais às cadeias do mundo. A verdade é que são poderosas, sabem exatamente onde atuar em nós e plantam armadilhas todos os dias. Muitas delas revestidas de enorme sutileza.

O homem que busca Deus com determinação é constantemente tentado. Mas, se tiver fé forte, muita humildade para reconhecer suas fraquezas e confiança na providência divina irá vencê-las uma a uma.

No começo elas se dão por breves pensamentos, em seguida vem o deleite e, por fim, o movimento. Este é o mecanismo da tentação. É como regar uma planta adormecida. E estas plantas, muitas vezes árvores, estão dentro de nós. É preciso que não estejamos dispostos a deixar que o regador passe da soleira da porta de nosso pomar. Apenas as plantas boas, que nos edificam e honram nossa existência devem ser regadas. Estas nunca serão regadas por forças estranhas à felicidade do ser. Apenas nós temos a responsabilidade de cuidar do que a nós serve em nosso pomar. É preciso nunca esquecer que jardineiro e pomar são a um só.

Não basta fazer a poda – o que muitas vezes fazemos com nossos esforços de caminhar na justiça e na paz. É preciso arrancar as raízes. Será que conseguiremos arrancar as raízes de algumas plantas que não mais queremos em nosso viver? Muitas delas só a graça de Deus consegue arrancar e, definitivamente, nos livrar de vê-las brotar e crescer em nossa alma. Depois de muito lutar a alma descobre que luta com algo maior que ela e que precisa de Deus para se livrar do que a faz sofrer. A consciência do justo sofre muito quando uma árvore que ele não mais quer em seu pomar, muitas vezes podadas pelo esforço pessoal sem o auxílio de Deus, é regada pelas tentações e produz frutos negativos à alma. Procura primeiro o Reino de Deus e tudo mais te será acrescentado - diz o Evangelho.

Não adianta tentar fugir das tentações. Os antigos dizem “que não existe Ordem tão santa nem lugar tão retirado, em que não haja tentações”. Orai e vigiai - diz Jesus. Procure evitar que “o ladrão que entra no redil para saquear” passe da soleira da porta. Verá que seu pomar começará a produzir bons e saborosos frutos. Perceberá, também, que o mal não entra com seu regador onde não existem plantas más a serem regadas.

Alimentando a Saúde e a Vida

Esta é a razão por que entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos. I Coríntios, 11, 30

São Paulo se referia à necessidade de estar sem pecado para participar, sem negativas conseqüências, do banquete eucarístico.

Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse pão e beba desse cálice. I Coríntios, 11, 28

Examinar-se e buscar em seu íntimo a certeza de que não possui em si nada que impeça de se alimentar do pão eucarístico: o corpo e o sangue de Cristo. Assim deve proceder todo aquele que professa a fé católica. Se ao se examinar encontrar algo de que possa se envergonhar, evite se aproximar do divino banquete. Neste caso, antes da comunhão, é necessário buscar a confissão. Confissão e comunhão são estradas que conduzem à paz, à felicidade e à saúde. Nada é mais ditoso e revigorante que ouvir “teus pecados te são perdoados”.

É ilógico procurar lógica na fé. À mente não cabe qualquer participação nos mistérios que a fé proclama. A mente entende muito bem de crenças, mas não lhe cabe penetrar os mistérios da fé. O maior deles, e talvez o mais extraordinário e grandioso, é o da transubstanciação. O corpo e o sangue de cristo alimentando, e divinizando, a alma, e por conseqüência toda a estrutura espiritual, psicológica e corpórea, de mulheres e homens arrependidos de seus pecados. A transubstanciação é real. É mistério, mas é tão, ou mais, real quanto eu que escrevi estas linhas e você que as lê.

Ao aproximar-se da mesa eucarística, é preciso fazê-lo com sentimentos profundos de agradecimento e respeito. É o próprio Deus que se nos dá como alimento vivo. Necessário se faz saber disso em mistério e verdade para que não fiquemos inclinados a fazer indulgentes e apressados julgamentos sobre se estamos, ou não, prontos para a Eucaristia.

Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor. ICoríntios, 11, 27

É imperioso aceitar o alimento, que nos é dado como a maior de todas as provas do amor de Deus por nós, com o coração cheio de felicidade, de amor à comunidade e aos irmãos, limpo de luxúria, sem inveja, sem ódio e tudo o mais que possa desagradar ao nosso Deus. Só assim podemos vivenciar de forma plena o mistério da Eucaristia, saberemos como distinguir o corpo do Senhor, evitaremos comer e beber a própria condenação e não seremos castigados por Deus, não como forma de punição, mas para não sermos condenados com o mundo. ICoríntios, 11, 29-32

Participar do banquete eucarístico sabendo-se em pecado: Esta é a razão por que entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos. ICoríntios, 11, 30

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A fronteira da fé

O mundo me mostrou muitas coisas. Em determinados momentos dei muito valor a elas. Tentei segurar algumas como minhas. De maneira forte e determinada procurei mantê-las mesmo quando de mim começavam a afastar-se. Custei a entender que, na verdade, nada que o mundo nos dá é permanente. De alguma maneira, ou as deixamos ou elas nos deixam. Sempre foi assim, é assim e sempre será assim. O mundo empresta com tempo determinado. Cabe ao tempo o trabalho de levar tudo o que nos foi emprestado. O que temos, ou que achamos que temos e o que somos, ou achamos que somos, tudo levado pelo tempo. Sejam de natureza positiva ou negativa, os empréstimos vencidos precisam ser quitados. Muitas vezes com grande sofrimento.

Existe algo real? Sim, existe. É só olhar a cruz. No seu braço horizontal, regido pelo tempo, estão os empréstimos. No braço vertical, eterno e imutável, está Deus. Ontem, hoje, amanhã e sempre. Uma realidade completa, verdadeira e sempre pronta a receber e abraçar, de forma incondicional, os que começarem a olhar para cima esquecidos do quero, do tenho e do sou.

São João nos diz que Deus é amor. Não nos diz que o amor está em Deus, mas que Deus é o próprio amor. O que vem de Deus não é empréstimo. É herança. Não é preciso esperar o depois, está disponível agora.

Vinde e vede, como já dissemos anteriormente. Só os jogos mentais dizem Vede e vinde. Os jogos mentais são do mundo. E, muitas vezes, nos atraem a contrairmos empréstimos com alto custo pessoal e sem nenhum benefício. O mundo espiritual verdadeiro é mistério puro. Segredos são transmitidos, os mistérios nunca. É preciso acreditar que existe uma realidade única, pessoal e indivisível no braço vertical da cruz. É preciso Ir e ver. É a fé que nos fornece a coragem necessária para ir e ver.

Eu vim para que nada se perca, disse Jesus. E nada se perderá para os que se determinarem a viver segundo a vontade de Deus, darem pouca importância aos empréstimos dados pelo tempo e compreenderem que caminhando em direção a Deus, mais e mais se vê. E quando se começa a ver, e é logo ali, mais se quer ver. É o mistério da fronteira da fé. Enche de maravilhas a caminhada do caminhante que, quanto mais caminha, mais lhe é dado ver. É uma caminhada sem retorno depois que se descobre que todos os empréstimos somados do mundo carecem de valor mesmo no início da caminhada.

Vinde e vede.

As Profecias Mayas

Não se sabe direito o que aconteceu com a extraordinária Civilização Maya. Sabe-se, entretanto, que a mesma possuía conhecimento para calcular o movimento dos planetas com grande precisão. Faziam, também, a leitura das energias que estes movimentos projetavam sobre a humanidade. Desapareceram! Sobraram apenas as belas praças, edifícios, estradas templos e mistérios. Em suas paredes, tumbas e pedras, deixaram a visão que tiveram sobre o futuro da humanidade: As 7 profecias Mayas.

Em suas profecias deixaram alertas, orientações e esperança.

Orientações que se referem, principalmente, à necessária mudança de nosso comportamento no trato com a natureza e com os outros. É fato, nos dias de hoje, mudanças climáticas que provocam calamidades cada vez mais contundentes e desastres naturais mais e mais freqüentes. Faz-se guerra por qualquer motivo e não se pode negar que as relações humanas estão cada vez mais deterioradas.

Esperança de um mundo novo onde as relações cotidianas estejam baseadas em valores nobres, fraternos e construtivos. Mesmo que as orientações não sejam ouvidas e tenhamos que viver momentos extremamente caóticos por um bom tempo.

Alertas? Uma das profecias nos diz que a partir de 1999 – com início coincidente com o eclipse total do sol em 11 de agosto de 1999 – restariam treze anos para a humanidade realizar as mudanças necessárias no sentido das orientações fornecidas. Este tempo - que termina em 21 de dezembro de 2012 – transcorrerá, segundo eles, cheio de sinais. A natureza cada vez mais enfurecida, catástrofes naturais ampliadas, fanatismo religioso crescente, guerra e belicosidade por todo o planeta. Nada, entretanto, comparado com o que virá após 2012 se continuarmos acreditando que somos os “soberanos” deste mundo. Alguns achando que somos soberanos até do universo.

Bom! Vamos ficar por aqui. Foi apenas para registrar.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A Humanidade dos Vivos de Hoje

Li recentemente a Nova Era sendo definida como uma das integrantes da "cultura da morte. Sinceramente, acho que as palavras Nova Era e New Age, acabaram criando um nível de preconceito alarmante. Não nos interessa, pelo menos neste artigo, discutir as razões que as levaram a ser malditas para alguns e apaixonantes para outros. Existe uma grande cegueira dos dois lados, pois a verdade jamais será encontrada nos extremos. Nada são mais cegos e sem vida que o preconceito e a exaltação fantasiosa.

Este artigo se destina aos capazes de perceber que tudo, inexoravelmente tudo, que existe no mundo caminha para uma nova realidade. Para os que são capazes de sentir que existe um derramar de energias renovadoras – aparentemente destruidoras - que vão conduzir a humanidade, quer queiram, aceitem, acreditem ou não, a um novo momento humano. Passageiro como todos os momentos humanos, mas a um novo momento.

É preciso perceber que o que chega conduz à inexistência de excluídos e a um mundo novo onde a igualdade fraterna dará a tônica das relações humanas. Um mundo onde os "viciados da compaixão" terão que arranjar outro vício, pois haverá muito pouco do que se compadecer. Um mundo onde o próximo são todos e não apenas aqueles que fazem parte de nossa família, acreditam no que acreditamos, comungam do que comungamos e são protegidos do Deus que nos protege. A quem interessa um mundo assim? "Cestas Básicas", "Caminhões Pipa", "Ajuda Humanitária" e outras formas de "caridade", aliviam muito mais a dor de consciência dos que fazem sofrer do que as dores dos efetivamente sofridos.


Desprezar o que se avizinha da a humanidade é estar cego frente a uma realidade que se aproxima celeremente. Será possível continuar acreditando que os lamentos e gemidos dos excluídos - muito pouco ouvidos - vão continuar apenas como gemidos e lamentos? Aliás, estes gemidos já estão nas ruas, armados e violentos. Será possível continuar acreditando que quase metade da população mundial vai continuar vivendo com a única e "digna" esperança de ter o que comer no dia seguinte?


No barril cósmico, o que existe de velho ainda é maioria, mas o que de novo está chegando é cada vez mais forte e decisivo. Viver o caos será o destino próximo de tudo e de todos que pautam o futuro na idéia continuada de desigualdade e na certeza que tudo que foi construído por nossos antepassados - a herança humana - é privilégio apenas de poucos.

O que chega a passos largos nada tem a ver com morte e sim com vida para os que acreditam e lutam por uma "vida abundante para todos".

Nós preferimos chamar o que chega de A HUMANIDADE DOS VIVOS DE HOJE.

Vivendo pelo desejo ou pela vontade?

Viver pelo desejo ou pela vontade? Esta é a diferença entre os que agem no mundo de forma anímica e os que procuram basear suas vidas em ações conscientes. Ações conscientes são as realizadas pela consciência. Esta, precisa da vontade para se manifestar. Ela nos faz crescer, ilumina o futuro e pavimenta nosso destino. O desejo, ao contrário, só precisa dele mesmo. Nasce conosco, é o nosso passado em ação. Tenta se perpetuar. Se deixarmos, levará “o velho” para a criança.

O desejo é, e será sempre, um copo vazio. O enchemos e tudo o que lá colocamos se evapora. Corremos e enchemos de novo. Novamente se evapora. Poder e abster-se é poder dobrado. Pode, e pode muito, aquele que por um ato de vontade lacra o copo do desejo. Para lacrá-lo é preciso um ato livre e soberano de vontade. É necessário colocar o Livre Arbítrio em ação. Livre Arbítrio? O que tem a ver com vontade?

Livre arbítrio é uma ação consciente e livre. Livre do passado e livre da ação das energias que o resgatam. É o Livre Arbítrio, e apenas ele, que nos permitirá ser o que conscientemente sabemos ser preciso ser.

O Livre Arbítrio nada tem a ver com desejo. É ação livre na luz da verdade e da consciência. É ação da vontade consciente sobre o desejo. É a ação dos que buscam liberdade. Estes sabem que ela existe numa dimensão extraordinária. Sabem que liberdade é a recompensa para os que vencem a maior de todas as guerras: a guerra contra si mesmo.

“A vontade consegue tudo que não deseja”. Eis um dos extraordinários paradoxos da sabedoria.

Quer aumentar a força de sua vontade? Contrarie um desejo – ou um hábito - todos os dias. Apenas um, começando por aqueles sobre os quais você tem maior controle. Rapidamente você vai ter força para lacrar copos ao invés de enchê-los de ilusões.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Filho da Graça ou das Energias? Depende de cada um...

Viver segundo a graça ou segundo as energias? Será que as pessoas têm consciência da possibilidade real de poderem viver segundo a graça e não mais segundo a força da lei e das energias que despencam sobre o mundo por meio das influências dos astros? Sim, é possível fazer esta opção. Por mais de dois mil anos não só é possível não ter mais sobre a vida individual projeções das energias que cumprem a lei das plantações e colheitas como, também, a lei do oito que transporta a consciência do seis para o nove e vice-versa.

Apesar de não tê-la exercido de forma profissional, tive a astrologia durante muitos anos como foco importante de meus estudos herméticos. Confesso que muitas vezes, o indicado pelas energias projetadas pelos astros determinava acontecimentos individuais, ou coletivos, que se mostravam de acordo com o que era preconizado pela astrologia. Outras vezes, entretanto, acontecimentos cuja força primária parecia grandiosa não se projetavam, ou projetavam-se, sobre os nativos de forma leve e quase imperceptível. Qual a razão da lógica astrológica ser em determinados momentos tão exata e em outros simplesmente não funcionar? Vamos fazer juntos algumas reflexões sobre este tema.

O Papa Bento XVI em sua Encíclica SPE SALVI cita um texto de São Gregório Nazianzeno que pode ser muito esclarecedor para esta investigação. Diz São Gregório: “no momento em que os magos guiados pela estrela adoraram o Cristo, o novo rei, deu-se por encerrada a astrologia, pois agora as estrelas giram segundo a órbita determinada por Cristo”. Segundo esta afirmação “não são mais os elementos do cosmo e as leis da matéria e da evolução que, no fim das contas, governam o homem. A vida não é mais um simples produto das leis e da casualidade. Os antigos diziam: “o céu não está vazio”. Realmente não estava vazio. Do céu projetavam-se todas as influências que conduziam as vidas individuais e coletivas. Na antiguidade pouco, ou quase nada, se falava de piedade e misericórdia. Era “olho por olho, dente por dente”. Vivia-se segundo a lei e só ela importava. O que estava escrito nas estrelas, para o bem ou para o mal, era sentença, não tendência.

Será que hoje ainda é assim? As energias projetadas pelos astros continuam a determinar, de formar parcial ou total, os destinos individuais e coletivos? Esta indagação possui como resposta o título deste artigo: “Depende de cada um...”

Um reparo precisa ser feito na declaração de São Gregório: ao invés de “deu-se por encerrada a astrologia” diga-se “deu-se por encerrada a astrologia para aqueles capazes de entregar suas vidas nas mãos de Deus”. “Seja feita vossa vontade assim na terra como no céu” – não é significativa esta citação? Afinal, quantos são capazes de viver segundo o FIAT VOLUNTAS TUA, confiando a vida plenamente a Deus. Esta é a única maneira de, em nossas vidas, as estrelas passarem a “girar segundo a órbita determinada por Cristo” e não mais orbitando de forma a cumprir a lei: “olho por olho, dente por dente, rosas por rosas”. Segundo a Graça ou segundo a Lei – a escolha é sua.

Este “girar segundo a órbita determinada por Cristo”, traz como conseqüência um estado de paz que não mais se sujeita às variações determinadas pelo movimento pendular. É o descansar na unidade mesmo ainda vivendo na dualidade. É encontrar a fé e vivê-la plenamente. É viver na inabalável certeza de que nossa vida é conduzida pelo amor infinito.

O FIAT VOLUNTAS MEA e o FIAT VOLUNTAS NOSTRA colocam aqueles que vivem segundo seus princípios como reféns das energias, e por conseqüência, das influências astrais. Infelizmente, vem crescendo na humanidade um olhar sobre a vida que leva em consideração apenas a busca por resultados. Parece impossível para milhões não buscar conquistar o que nasce como fruto dos desejos. Parece impossível mesmo para muitos membros atuantes de instituições ligadas à religiosidade. A busca por resultados une de forma profana, e quase sempre mágica, o Fiat Voluntas Mea e o Fiat Voluntas Nostra. Postar-se no mundo desta maneira cria sérios vínculos com as energias e afasta as pessoas de uma vida espiritual real. É o decidir ser do mundo, prestar reverencia ao mundo e, por conseqüência, ser cobrado pelo mundo. É submeter-se aos efeitos determinados pela lei.

Grande parte da humanidade somente recebe a ação da graça de Deus sobre suas vidas, aplacando ou mesmo impedindo grandes sofrimentos, como resposta às orações da Igreja Santa e Católica, de um amigo, parente, filho, filha, pai ou mãe piedosa. Ai! O que seria de milhões sem alguém que orasse por eles? A serpente continua repetindo e milhões de humanos acreditando: “e sereis como deuses”. Se for nisso que realmente acredito, ninguém melhor do que eu para decidir o que posso ter o que posso ser e até onde posso chegar. Faça-se então: “segundo a minha, ou no máximo, segundo a nossa vontade”. Ledo engano e grave ilusão: “o mundo dá, o mundo cobra, o mundo toma”.

Será que um Deus, adorado pelos magos do oriente, que nasceu como o mais pobre dos homens – numa manjedoura – que foi coroado com uma coroa de espinhos e não de ouro, que morreu crucificado e nu mesmo tendo todos os anjos do céu à sua disposição para evitar que isso viesse a acontecer, que rejeitou no deserto todo o poder que lhe foi ofertado pelo mundo, que dizia sempre estar fazendo a vontade de seu pai que estava no céu e que disse nada possuir nem para recostar a cabeça, não fez tudo isso para ensinar o contrário do que “o sereis como deuses” preconizado pela serpente. Será que entregar-se com confiança nas mãos de Deus, agir neste mundo sem ter as ações carregadas do desejo de poder, de ter e de ser, não é o caminho indicado por este imenso sacrifício que abriu novamente a porta estreita da salvação?

A graça é soberana e está acima da lei. Quem está sob a graça de Deus não deve mais temer a lei e as energias que a instrumentalizam. “Hoje mesmo estarás comigo na casa de meu pai...” disse Cristo a um ladrão condenado, não a um homem comum.

As influências planetárias e os dias e as horas dessas influências estão submetidas a um poder superior. Só possuem livre ação sobre os que, por decisão própria, continuam a “agir como deuses”. Um poder sobrenatural exerce a primazia sobre as influências astrais das horas, dos dias e dos anos.

Para as almas voltadas ao espírito e na vida das pessoas realmente espirituais o sábado não é mais o dia de Saturno mais o dia da Santíssima Virgem, a segunda-feira não é mais o dia da Lua e sim da Santíssima Trindade, a quarta-feira não é mais o dia de Mercúrio e sim dos pastores humanos da humanidade.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Perdão e Justiça

"o perdão não substitui a justiça". Com estas palavras, ditas durante a viagem para Portugal, o Papa Bento XVI aponta um novo momento da Igreja no trato de casos de pecados cometidos por padres contra a sociedade. Não se trata aqui apenas de casos de pedofilia. O que se percebe é que a Igreja continuará administrando o perdão eclesial, mas não evitará que a justiça dos homens seja aplicada em casos de crimes praticados por padres.

Em artigo anterior – O Futuro do Catolicismo – já havíamos antecipado que esta seria – e não poderia ser diferente – a posição da Igreja. O perdão é ministrado por superiores católicos em nome de Deus. O perdão da sociedade somente ela pode dar por meio da justiça. “Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” César não mais será esquecido pela Igreja em casos de crimes cometidos contra a sociedade.

O Papa disse mais: "Hoje nós vemos de uma forma verdadeiramente terrível que a grande opressão da Igreja não vem de inimigos externos, mas nasce do pecado dentro da Igreja."

Fato é que o mundo está cada vez mais forte. As oportunidades de tentação se ampliam a cada dia. Aqueles que fizeram a opção de realizar um trabalho eclesiástico precisam estar atentos e se preservarem das tentações ampliadas que o mundo, e seus senhores, ofertam. Caso contrário, os casos de “pecado dentro da Igreja” se multiplicarão.

“Peca mais quem mais se deixa tentar” – autor desconhecido.

terça-feira, 11 de maio de 2010

O pouco com Deus é muito

A leitura de textos bíblicos sofre rejeição por uma maioria significativa dos esoteristas e estudiosos das chamadas ciências herméticas. Muitos destes estudiosos procuram passar a impressão que o simples e popular nada tem a ver com a sabedoria que acreditam estar buscando, estar encontrando ou “ter encontrado”. Muitos passam a vida com os olhos fixos na miragem que um Deus elitista representa. Será que vão encontrar algo? Será que distante do que permeia todas as capacidades de compreensão irão encontrar Deus? Será que olhar a Bíblia como uma coisa de textos simples, utilizada por gente simples, de rituais simples – ela é também tudo isso – não representa um olhar sobre o mundo de forma pessoal inteiramente inflacionada? Um Deus que se mostra permanentemente a todos deixa de ser visto por aqueles que continuam a acreditar na serpente, viver pela serpente, com a serpente e, quem sabe um dia, fundir-se de forma substantiva com a serpente. E aí....

A Bíblia toda é um profundo tratado espiritual. Cada capítulo lido com postura agostiniana – buscando sabedoria com simplicidade e humildade de coração - chega a ser tão revelador que a alma fica, às vezes por dias, em estado de graça. E, muitas vezes, encerra em textos muito pequenos ensinamentos que definem com precisão “o que é de César e o que é de Deus”. Vejamos quantos ensinamentos estão contidos na passagem bíblica onde é relatada a multiplicação dos pães e dos peixes - Marcos 6;35-44. Esta passagem nos mostra a diferença entre ter as ações limitadas por as centrarmos nas possibilidades humanas e a ampliação sobrenatural de nosso potencial quando Deus está conosco.

“Já é tarde. Despede-os, para irem aos sítios e aldeias vizinhas a comprar algum alimento.” Eram mais de 5.000 pessoas. O lógico, analisando sob a perspectiva humana, era, já que a noite se avizinhava, dispensar a multidão. A resposta de Jesus foi “daí-lhes vós mesmos de comer.” Mais uma vez os apóstolos, mesmo após a orientação de Deus, raciocinaram de acordo com as limitadas possibilidades humanas e disseram “Iremos comprar duzentos denários de pães para dar-lhes de comer?” Quantos pães tendes ? – perguntou Jesus. Cinco pães e dois peixes – responderam. E com estes poucos pães e dois peixes alimentaram uma multidão de mais de 5.000 pessoas e ainda recolherem o que sobrou em doze cestos.

Não tenho nada, não sei nada, não sou inteligente, nada tenho para oferecer. É um raciocínio comum. Julgar-se incapaz de ajudar o próximo avaliando que o que se tem é pouco. É preciso começar a mudar esta maneira de pensar. Se dedicarmos nossa vida a fazer uma obra de amor, não importa o pouco que temos. Deus não nos faltará. Se for para dar aos que necessitam, o que temos, mesmo que seja pouco, jamais irá faltar. É preciso, entretanto, não esquecer: O que se recebe como resultado de multiplicação de Deus não deve ser desperdiçado.

É preciso acreditar que “sem Deus o muito que temos é pouco. Com Deus o pouco que temos é muito”.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O Segredo Real

Muitas vezes a gente mergulha tão profundamente no mundo interior que perde a capacidade de se comunicar. Descobre que tem muito a dizer, mas não consegue. A voz não sai. Foi assim comigo nos últimos quatro meses. Tinha muito a dizer e, ao mesmo tempo, nada a dizer. Enfim, um breve murmuro traz, de novo, o "vivo" ao mundo dos vivos.

As palavras existem apenas no mundo da manifestação. Servem para comunicar o que o mundo manifestado tem para nos falar. E, se deixarmos, não ouviremos mais que vozes que vem do mundo. E, geralmente, só teremos ouvido para as vozes do mundo que nascem dentro de nós mesmos. Estas se projetam, dentro e fora de nós, fruto de nossos desejos e preocupações. Para quem tem a consciência centrada fortemente no mundo manifestado, de reais mesmo só duas coisas possuem: desejos e preocupações. São estas pessoas que buscam sem cessar, e aceitam sem pensar, “segredos” que ensinem a moldar o futuro de acordo com seus desejos. Não importa o que estes segredos ensinam. O fato é que, dando mundo, são aceitos por muitos sem qualquer restrição.

O iludido coloca toda sua esperança e, muitas vezes, sua vida na ilusão. O mundo, e os senhores dele, são mestres em criar ilusões. Estas, por sua vez, aprisionam bilhões de almas. A fábrica de ilusões está a pleno vapor. Não dá nem tempo de esgotar uma ilusão e já aparece outra para nos enfeitiçar. E, de ilusão em ilusão, ou, para ser mais claro, de desilusão em desilusão, a alma caminha para o nada. O que pode sobrar de uma vida vivida na ilusão?

Voltemos ao segredo. A busca do segredo real que conduza a uma vida eternamente feliz é o objetivo deste artigo. Mais uma vez recorremos à carta que Deus nos enviou: A Bíblia. No evangelho de São João, Capítulo 2 que trata das Bodas de Canaã, Maria numa única frase nos dá o segredo de uma vida completa, feliz, protegida por Deus e eternamente abençoada. “Fazei tudo que ele vos mandar.” Fazer a vontade de Deus e buscar sua justiça. Este é único segredo que pode proporcionar uma vida onde nada é perecível.

O vede e vinde é arma do mundo. O vislumbre, mesmo rápido, de algo que excite a mente conduz a alma na direção do desejo de ser, de ter ou de poder. Esta continua sendo a arma do mundo para aprisionar almas. Veja o que foi dito a Jesus na tentação do deserto: “Se me adorares te darei poder sobre todos os reinos da terra.” O segredo para plasmar o mundo que nos rodeia de acordo com os nossos desejos é concordar com esta adoração. O problema é: será que a alma terá capacidade para pagar a dívida que esta adoração gera?

O vinde e vede é o caminhar com a fé. Com a certeza das coisas que não se vê. É buscar o mundo sem forma com a certeza de que a forma é propriedade do mundo da manifestação. É buscar a Deus “num reino que não é deste mundo”. É olhar este mundo como estrangeiro que o vê muito além das formas. O que é o belo? O que é o feio? São perguntas que não mais serão feitas por quem elevou sua consciência além da percepção dual.

O vinde e vede só é possível para quem inicia a caminhada fazendo sempre “tudo o que ele nos mandar”.

domingo, 9 de maio de 2010

Centros de Gravitação Cósmica

Pela vida afora nos colocamos presos a sistemas de gravitação cósmica que determinam as possibilidades e os limites de nossa liberdade física, psíquica e espiritual. É fato que sempre estamos gravitando em torno de alguma coisa ou pessoas. Muitas vezes esta força gravitacional se processa com tal intensidade que perdemos a noção do todo e de nós mesmos. Só vemos felicidade, alegria e sentido em nossas vidas enquanto gravitamos em torno do centro que nos atrai. O problema é que normalmente gravitamos em torno de coisas tão perecíveis como nós mesmos. Faltando o centro em torno do qual gravitamos, caímos num grande vazio. Falta-nos tudo até que, atraídos novamente, passamos a gravitar em torno de outro centro que parece dar novamente sentido ao nosso viver. E novamente, dependendo da escolha que fizermos, este centro pode nos faltar. O vazio, também, voltará.

A verdade é que, quase sempre, pagamos um alto preço por gravitarmos em torno do perecível e limitado. A gravitação “deste mundo” é muito forte apesar de ser a maior das ilusões. É a opção do “homem carnal” incapaz de ver, ouvir e sentir o que não passa pelos sentidos. Entretanto, a atração do alto é, e sempre será, também, muito forte. Em um determinado momento, por mais que um homem se sinta atraído pelas coisas de baixo, não mais poderá resistir à atração do alto e, como o Filho Pródigo, retornará e será recebido no céu com festa e alegria.

O homem que vive sob a gravitação do “céu” é o “homem espiritual”. Gravita em torno do eterno e imperecível. Acumula “tesouros no céu onde a traça não come e nada se perde”. Possui vida e “vida em abundância”.

Da consciência centrada neste mundo só nos chegam ilusões. A maior delas é esquecermos que no mundo da forma nada é permanente. Tudo é perecível e de vida curta. Apesar de todas as desilusões que o mundo “da serpente e do enrolamento” nos traz, insistimos em buscar neste mundo paz, alegria, e a felicidade permanentes. Coisa que só Deus pode nos dar.

Quando os salvadores precisam ser salvos

... e sereis como deuses. Com esta frase a serpente convenceu a humanidade, representada no Éden por Adão e Eva, a comer o fruto proibido. Iniciava-se aí o mergulho humano no mundo da manifestação. Iniciava-se, também, a saga de sofrimento que tem origem no crédito dado pelo homem ao que foi dito pela serpente.

A serpente disse que seríamos “como deuses”. Acreditamos nisso no Éden e continuamos acreditando. Por termos acreditado, desenvolvemos a vaidade, o orgulho, a soberba, a noção de separatividade e o desejo de poder e ter. Isso apenas para citarmos alguns dos aspectos negativos que a natureza humana desenvolveu após a “queda”. ...e sereis como deuses. Até quando vamos continuar acreditando nisso.

Mais de dois mil anos se passaram desde que Jesus, com sua vida, sua morte, sacrifício e palavras, nos mostrou que devemos rejeitar todo e qualquer procedimento, ou ação, que tenha origem no conceito de grandeza. Qualquer ação humana que tenha seu alicerce fincado na noção de grandeza pessoal é de natureza serpentina. Se alguém acreditar que a voz da serpente se calou, vai relaxar e esquecer o que foi nos recomendado por Jesus: ORAI E VIGIAI. Esta frase resume o que devemos fazer para nos proteger da voz que tenta, e vai tentar sempre, fazer crer que somos como deuses.

Não é difícil a serpente falar alto, incutindo em nossos corações e mentes, que podemos salvar empresas, famílias, países e almas. É daí que nascem os “escolhidos”, os que fazem o “trabalho de Deus” – cobram por isso - e os salvadores do mundo e de almas. E, como certas situações negativas advindas do passado permanecem existindo, desprezam toda a grandeza, principalmente humana, que o passado nos legou. Não é difícil, para os enredados pelo bote serpentino, confundirem sabedoria espiritual com mentalismo e tecnologia épica. Com esta visão desprezam o passado e reinventam filosofias e rituais. Rituais tradicionais já não servem. O momento é outro e o passado nada tem para ensinar – devem afirmar. A sociedade requer modernidade, curas, exorcismos, rituais animados e templos superlotados – dizem eles. É como se o que Deus espera de nós estivesse condicionado ao que a sociedade, o mentalismo, a cultura e a moral social da época esperam. É muito fácil esquecer, quando se ouve a voz que vem do mundo, que o que emana do Eterno é eterno. Não muda com as eras e muito menos com as pessoas. Que a Verdade, quando for conhecida e não sabida, nos libertará. E, como tudo que vem de Deus, a verdade é tão simples como o mais simples dos homens. Para ser conhecida independe de intelecto desenvolvido. Pode então ser conhecida, não sabida, pelo mais simples e menos intelectual dos homens.

É preciso crer no que a Bíblia nos ensina. Ela não pode ser utilizada para fazer crer que cremos e podemos. Não pode ser instrumento de nossa inteligência para dominação, enriquecimento e muito menos para satisfazer nossos sentimentos de grandeza e “sapiência”.

A Bíblia é a carta que Deus enviou a cada um de seus filhos. É como filhos, iguais, e irmãos que devemos lê-la. É como filhos, iguais, e irmãos que devemos viver. É muito fácil para os que acham que já estão salvos, muito mais ainda para os que acham que podem salvar os outros, relaxar e deixar de orar e vigiar. Correm o risco de aumentar a visão sobre si, transformarem-se em “cegos que guiam cegos” e “salvadores” que precisam de salvação.

Jesus nos diz: VINDE E VEDE. A serpente nos diz: VEDE e VINDE.

O Poder da Fé

          O mundo continua se esforçando para explicar as escrituras. Todos os dias, principalmente agora com a internet, aparecem textos novos com interpretações sobre os mais diversos temas tratados pela Bíblia.
          Podemos considerar tais tentativas assunto de fé ou de crença? Existe diferença entre uma e outra? Para os que apenas crêem, não. Os que possuem a fé, entretanto, sabem que uma distância infinita separa os que dizem “eu creio” dos que afirmam “eu tenho fé”. Assim como uma determinada sensação não contém, em si, necessariamente sentimento, podendo ser rapidamente substituída por outra, a crença não contém em si a fé. Crenças se sucedem na dependência, entre outras coisas, de cultura, conhecimento, informação, experimentação, observação fenomênica e situação pessoal. E, dependendo destas mesmas coisas, podem sofrer modificações. Nada disso, entretanto, modifica o estado de fé. Digo estado, pois a fé não é acomodação momentânea da substancia mental. Aliás, nada tem a ver com a mente. Não é algo que possa nascer de complicados, ou simples jogos de raciocínio. É um estado que não se modifica com o “vede e vinde” do mundo. Este – caracterizado pelo que o mundo tem diariamente para nos mostrar e oferecer – modifica as crenças, mas é incapaz de ter qualquer influência sobre o protegido e imaculado centro onde a fé se aloja. Centro este que mesmo os que a possuem não sabem onde se encontra. Sabem, entretanto, que deste centro ouvirão por toda a vida uma voz pacifica e insonora repetindo “eu sou quem sou”.
          Percebe-se que a fé é capaz de modificar nosso viver sem que haja necessidade do estabelecimento de graves e enormes lutas contra nossa individual natureza. São estas modificações, crescentes e perceptíveis a todos, que se processam de forma imediata em nossa natureza e nos torna ”nova criatura”. “Nova criatura” não mais sujeita a ter as ações orientadas na dependência da moral social, fruto de épocas e costumes. Este tipo de moral, não tem, e não mais terá influência sobre aqueles que possuem desperto o centro onde a sagrada fé se aloja. É ao que do eterno se derrama, de forma imutável e permanente, que a fé deve obediência. É a voz insonora, que apenas a fé escuta, que orienta seu caminhar. É o “vinde e vede” em substituição ao “vede e vinde”. É a certeza da incapacidade do mundo, mesmo com tudo que nele existe, de nos tornar “velhas criaturas”. É consciência que o que Deus criou, apenas Deus pode modificar. É certeza que somente podemos nos tornar “novas criaturas” sob a ação da graça, e por conseqüência, da ação direta de Deus sobre nós e nosso viver.
          A fé fornece permanente testemunho da transubstanciação, da intercessão dos santos e do amor e proteção maternal de Maria. Enfim, testemunha a plenitude cristã que se realiza de forma integral no catolicismo. A fé, sinônimo de amor, é católica e dom de Deus. Nasce na, e da, catolicidade projetando sua eterna luz sobre aqueles que estão no mundo, congregam no mundo, sofrem com os sofrimentos do mundo, mas já não são do mundo.
          É a paz, a alegria, e a esperança que nasce da fé que nos permite dizer do fundo de um coração mortal conectado, por esta mesma fé, à nossa alma imortal:
          “Eis-me aqui. Faça-se em mim sempre segundo tua vontade.”

Asfixia Espiritual

          O que aconteceria se o dia não sucedesse a noite? O inspirar não fosse seguido do expirar? A ação do sangue venoso não fosse alternada com a ação do sangue arterial? Você já pensou nisso? Se pensou sabe que, independente do tempo que pode levar, a ausência da sucessão dos opostas na vida de uma pessoa levará necessariamente à morte.
         Existem muitas formas de asfixia. O ser humano pode se asfixiar de várias maneiras. Uma muito comum é se deixar asfixiar espiritualmente. Se nos detivermos apenas um pouco sobre a frase, “daí a Cesar o que é de César e a Deus o que é de Deus”, dita pelo Cristo há mais de dois mil anos compreenderemos ser necessário alternar a vida inserida nos afazeres do mundo com a vida de oração. Quem não ora caminha para a asfixia espiritual, para a ausência de bênçãos e para longe de Deus.         
          Assim como o dia sucede a noite, a benção sucede a oração. Não existe oração sem bênção, assim como não existe noite sem dia. A benção será sempre da natureza do que faz bem á alma. Será a resposta para o que precisamos e não para o que achamos que precisamos ou desejamos. Mesmo que não seja correspondente ao que você pede, tenha certeza, a resposta da oração é a benção.
          A prece diária ou oração – que você faz com teu viver, com teu amor ao próximo e a Deus – terá sempre como resposta a benção. A oração é da natureza do sangue venoso – leva aos céus dores, sofrimentos, angústias, lamentos e súplicas, o que de humanos temos – e retorna carregado de pureza trazendo-nos o que de divino necessitamos. Uma vida sem oração vai asfixiando lentamente aquele que assim vive.
          Realiza um mergulho na paz, na alegria e na felicidade aquele que faz de sua vida uma oração.

Acalmando as tempestades pessoais

          Navegando em mares tempestuosos em meio a furacões pessoais vive grande parte da humanidade. Continuam acreditando que, por si só, podem acalmar os ventos e fazer cessar relâmpagos e tempestades. Viajando em frágeis barcos – suas vidas - enfrentam com intensos medos muitas vezes sozinhos, outras vezes acompanhados apenas de frágeis criaturas, as tempestades que se abatem sobre seu viver. Não conseguem, durante as tempestades e mesmo durante as calmarias, ouvir a voz que repete sempre “não tenham medo, estou aqui”. Não conseguem deixar Deus entrar nos seus barcos e viajar junto. Tempestades cessam e outras deixam de se formar quando no barco de teu viver viaja junto aquele que pode “ordenar aos ventos e à fúria da água que se acalmem – Lc 8, 22”


                Santo Agostinho dizia que seu maior pecado foi “acreditar que prazer, alegria, felicidade, paz e verdade podiam ser encontradas nas criaturas, como ele, criadas pelo mesmo criador”. A presença de Deus em nossas vidas transforma nosso barco em ARCA. Esta navega tranqüila e em segurança independente dos temporais que se formem lá fora. A porta que a lacra é “fechada por fora pelo próprio Deus” – Gênesis 7,16.

                A Deus devemos entregar nossos familiares, nossa esperança, nós mesmos e todo nosso viver. Esta entrega traz a certeza que nós e os nossos não mais navegarão sozinhos em meio a tempestades, terão a quem pedir o cessar das mesmas e estarão sempre ouvindo a voz suave que repete de forma firme e carinhosa: “não tenham medo, estou aqui”.

«O Senhor dirija para ti o seu olhar e te conceda a paz (Nm 6, 26)»   

São nossos votos.

Vinde e Vede


          Rabi onde moras? Perguntaram os discípulos de João a Jesus. A resposta resume a essência da vida cristã. Vinde e vede – João(1,38). Buscar Jesus significa caminhar, e caminhar firmemente em direção a Deus sem qualquer orientação dada pela mente. É preciso seguir sempre em frente esquecendo-se dos apelos do vede e vinde do mundo. Não existe outra maneira de se encontrar Deus. O texto é conclusivo. É a orientação definitiva para uma caminhada indefectível – Vinde e Vede.
          As caminhadas que se dão pelo vede e vinde, ao contrário das que tem por base a fé, se iniciam por meio da excitação mental. Algo desperta o desejo, a mente fica excitada e começa a caminhar na direção indicada pelo mundo. Vede esta praia é linda vinde visita-la, vede ali tem um mestre infalível ide vos aconselhar com ele, vede aqui tem um grande curador vinde vos curar. É pelo vede e vinde que o mundo enreda as almas. Já, considerando-se o vinde e vede, a mente é e sempre será completamente cega. A caminhada na fé prescinde inteiramente da mente. Nesta, os passos firmes e a direção definitiva são dados pela alma. Sem o sim e o não da mente nos unimos como irmãos, e iguais, em Cristo independente de cultura, saber ou condição social. É nesta caminhada que nasce o verdadeiro justo. Ela, também, sintetiza a tradição unindo no saber gnóstico que se projeta do fundo da alma presente, passado e futuro. Enfim, é a caminhada da paz e na paz. A caminhada das ovelhas.
          Não é a toa que o diálogo acima citado encontra-se no primeiro capítulo do Evangelho de João. Este capítulo está repleto de ensinamentos sobre a postura que precisa ser adotada pelos cristãos para, verdadeiramente e com segurança, iniciar a caminhada. Necessita ser muito meditado, pois esconde, e ao mesmo tempo revela, a direção e as condições pessoais que precisam ser adotadas por um cristão para o início da verdadeira caminhada.
          Fato é que vida cristã exige prática. Quanto mais oramos, trabalhamos pelo próximo e vigilantes somos, mais nos aproximamos de um dos maiores mistérios cristão: o despertar da fé.
          Muita gente confunde crença com fé. A mente diz: eu creio. A alma diz: Deus me deu a fé.
          Somos peregrinos em busca de nosso verdadeiro lar. Precisamos encontrar Deus verdadeiramente para termos vida. Vida em abundância. Apesar de darmos muito valor a esta pretensa “vida”, estamos, na verdade, mortos. Colossenses (3,3) nos afirma isso quando diz: “Porque vós estais mortos, e doravante vossa vida está escondida com Cristo em Deus”. Para encontrarmos nossa vida precisamos, necessariamente, encontrar o Cristo. E, para isso, a única opção que temos é ir e ver como nos ensina Jesus.
          Para ir e ver é preciso, segundo Colossenses (3,1), “…buscar as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus e pensar nas coisas lá de cima, não nas da terra”. Neste texto, parte reproduzida abaixo, ainda lemos sobre algumas coisas que precisamos abandonar embaixo para nos encontrarmos com as coisas do alto.
          “Por isso, fazei morrer tudo o que há de terreno dentro de vós: a imoralidade, a impureza, a paixão, os maus desejos e a cobiça. Abandonai tudo isto: cólera, exaltação, malícia, blasfêmia, palavras indecentes em vossos lábios; não faleis mentiras uns aos outros, pois fostes despojados da criatura que éreis antes, e de suas obras, e vos revestistes de uma nova criatura, que por um pleno conhecimento se renova segundo a imagem de seu criador” – Colossenses (3,5).
          “Vinde e vede”. – João(1,38). Não te parece uma indicação de que é preciso caminhar para compreender ao invés de compreender para caminhar?

O futuro do Catolicismo

Em meio a dezenas de acusações de pedofilia, muitas já comprovadas, a Igreja Católica acaba dando a impressão de ruína iminente. É nesta hora, em que aparenta grande fragilidade, que grupos religiosos, alguns até abominando a palavra "religioso", acreditam estar chegando o fim da era católica e o grande momento mundial de avivamento para suas seitas e doutrinas.

Não se pode negar que a crença de alguns católicos pode estar sofrendo abalos sérios. Afinal, foi inteiramente reprovável a ação de alguns padres. A conseqüência negativa destes atos junto à comunidade católica já é visível e pode se intensificar. Fala-se que na Alemanha um quarto dos católicos demonstram a intenção de abandonar o catolicismo – (O Globo – 11/04/2010).

Mistura-se de forma perigosa a Igreja Organização com a Igreja Corpo de Cristo. Os que apenas crêem, mas estão longe de ter fé, são os mais prejudicados. Estes não suportam os desatinos realizados por alguns homens investidos da função sacerdotal e podem, infelizmente com severos prejuízos para suas almas, desistir de continuar seguindo o caminho que, com certeza, os conduzirá à casa do pai.

Os que já alcançaram a fé estão protegidos das influências negativas que as nefastas ações de abuso infantil realizadas por padres, agora descobertas, desencadearam junto à comunidade católica. A cultura católica do perdão, com a qual concordo, talvez tenha beneficiado muitos destes abusadores. O catolicismo é essencialmente perdão. Não pode negar-se a perdoar e a igreja possui toda autoridade para dar o perdão. Entretanto, perdoar não pode se confundir com esconder. O perdão eclesial, e mesmo o papal feito em nome de Deus, não pode, sem a concordância da justiça e da sociedade, substituir a punição de crime algum, muito menos destes realizados contra jovens com extrema brutalidade. O “vai e não peques mais” talvez tenha tomado contornos exagerados. O “dai a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus” é com certeza a máxima que precisa ser observada pela Igreja nestes casos. Cesar foi esquecido, mas não deve sê-lo mais. Parece que a Igreja caminha para orientar que este esquecimento não mais se dê.

O Catolicismo compreendeu desde seus primórdios a síntese bíblica. Sabe-se não ser a Bíblia um tratado orientado para a prosperidade humana. Sabe-se desde há muito que deve-se olhar para a “Velha Aliança” como uma extraordinária luz que iluminou a “Nova Aliança”. Sabe-se ser a Bíblia um tratado que orienta à salvação e não ao progresso mundano. A despeito de certos grupos ditos católicos que perderam a síntese na qual o catolicismo possui sua essência, o futuro do catolicismo caminha para ser mais reluzente do que hoje é. Quem tiver olhos e ouvidos que veja e ouça.

Até quando Deus quiser, os católicos continuarão recebendo a Eucaristia diária (fazei isto em memória de mim), recitando a oração que Jesus nos ensinou(Pai Nosso que está nos céus...) e tendo Maria como mãe e intercessora como nos foi ensinado pelo próprio Cristo na hora de sua morte: “filho eis aí tua mãe” .
Publicação autorizada por: Zacarias

Em busca da síntese

          Os fatos não existem, existem as versões? É difícil saber, ou mesmo tentar saber, o impacto que esta frase dita por um amigo há muito tempo teve em minha vida. O que sei é que ela, além de me acompanhar por muitos anos, talvez tenha balizado toda minha caminhada nesta vida. Mesmo que muitas vezes nem soubesse, ela sempre esteve martelando em minha cabeça frases tais, como: cuidado com esta análise apressada, várias variáveis não foram contempladas, não condene (ou absolva) com tanta rapidez, você está analisando a partir de versões e não dos fatos reais, etc
          Que os fatos deixam de existir no momento exato em que acontecem, e que a partir daí ficam no mundo apenas as versões do mesmo, não tenho dúvidas. Estas versões que ficam no mundo podem assumir colorações inteiramente variadas na dependência de centenas de fatores: cultura, conceitos, preconceitos, interesses, disso gosto, disso não gosto, etc
          Mesmo versão de fato pessoalmente presenciado pode ser apresentada carregada de projeções que identificam muito mais o indivíduo que o narra que o fato em si. Coletivamente o fato será igual às milhares de versões que se tem dele. Individualmente, com certeza, será igual à versão que o individuo possui do mesmo. E o fato, onde está?
          Talvez isso nos ajude a compreender “o não julgarás” bíblico. Pode nos ajudar, também, a entender que devemos buscar sempre a síntese mesmo entre versões aparentemente irreconciliáveis. Quando me perguntam se sou evolucionista ou criacionista sempre respondo que sou os dois. Surpreendem-se e indagam como pode ser? Apenas respondo que a síntese explica. Acredito com toda a força de meu coração que a verdade está na síntese e jamais em um dos lados da dualidade não importando quão luminoso um dos lados se apresente. Será que não é esta a mensagem que Calvário quis nos dar com o bom e o mau ladrão? Será que não cabe perguntar se, considerando este maravilhoso simbolismo, a verdade estava no bom, no mau ou no meio?
          É preciso ter consciência que qualquer análise que estejamos fazendo dum fato ou de uma questão filosófica, estaremos realizando-a a partir de versões mesmo que só exista uma: a nossa.
          Finalmente, uma pergunta precisa ser feita: será a mente capaz de dar respostas que não sejam apenas novas versões?

Criador e Criatura

          Quando nos criou Deus nos deu tudo. Só uma restrição fez: a de não comermos o fruto de uma determinada árvore. Desobedecemos e ofendemos a Deus. E, pior do que a desobediência foi seu motivo: sermos como nosso criador.
          Vejamos o que disse a serpente para Eva momentos antes de ela comer o fruto: “… Deus bem sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal” – Gênesis 3,5.
          Eva acreditou, e fez Adão acreditar, que comer aquele fruto os levariam a ser iguais a Deus. Eis o motivo da desobediência que gerou a queda: o desejo de ser grandioso e resolver tudo a suas expensas.
          A serpente enganou a Eva sem proferir mentira alguma. Usando sua reconhecida astúcia disse que Adão e Eva “seriam como deuses” e não que seriam deuses. Ser como, não é a mesma coisa que ser igual. A serpente só disse o que já sabíamos e sabemos: Deus nos criou à sua imagem e semelhança. Ser semelhante não é a mesma coisa que ser igual. Assemelhamos-nos a Deus quando misturando coisas já criadas apresentamos algo novo como “criação” nossa. Isto é apenas “criar” à semelhança considerando que é impossível para nós dizer: “Faça-se algo”.
          O desejo de grandeza e poder, motivo da queda humana, precisa ser vencido. E, felizmente, Deus indicou o caminho para sermos novamente aceitos em sua presença. Este caminho foi-nos trazido pelas mensagens transmitidas pelo nascimento, vida, morte e ressurreição do Nazareno. É preciso viver sem dar crédito a sonhos irreais de auto-salvação. Eles nascem na mente e não na alma. São repetições do diálogo serpentino. O que precisamos é vencer o “desejo de ser, de ter e de poder” para sermos aceitos novamente na presença de Deus. É o que busca nos ensinar o Voto de Obediência prescrito pela Igreja Católica a todos os seus membros.
          Obedecer leva à humildade e ajuda a entender que somos filhos e não iguais a Deus. Que somos criatura e não criador.
          O próprio Jesus, quando foi tentado no deserto a transformar pedras em pães, preferiu, mais uma vez, nos dar a grande lição de que é preciso ser humilde.
          Fazer parte do rebanho como igual e não se achar melhor, diferente ou especial: eis o segredo.
          É preciso acreditar na redenção e no redentor. Com nosso viver, provar que vencemos o desejo de sermos grandes, diferentes e especiais. Aceitar que somos ovelhas e que sem o pastor nada somos.
          Evoluir no saber deixando de lado o coração é, na verdade, involuir.
Meditar é preciso!

sábado, 8 de maio de 2010

Para quem Samine escreve?

          Para os que não descartam os “pontos de vista” inteiramente subjetivos. Para os que pautam suas vidas mais no “vinde e vede” que no “vede e vinde”. Para os que aceitam que a fé pressupõe a visão de analogias verticais e não horizontais. Para os cristãos gnósticos esclarecidos e amadurecidos aos quais – alguém já disse – “é dirigido todo o anúncio do Novo Testamento”. Para os que buscam a fé sem desprezar a ciência. Para aqueles que escutam cada vez menos os “gritos prazerosos mundo”. Para os que não sofrem de “reducionismo teológico”. Enfim, “para os que são fiéis à Sabedoria Eterna”.

           Segundo o ensinamento Cristão, a fé é um dom que ninguém dá a si mesmo. É dom que só Deus pode dar. É o viver no “vinde e vede” que evita a privação de vermos, “sem ver”, as belezas do mundo espiritual. Meus textos são, também, dirigidos aos que, meditando sobre o “vinde e vede”, afastam-se mais e mais do “vede e vinde”.

           O mundo está dominado por crenças. Milhares delas. Por nascerem no e serem do mundo são sustentadas apenas por ele. Com o tempo passam a sofrer de anemia e terminam por desaparecer. Dentro do próprio cristianismo existem dezenas. Um dia compreenderão que apenas uma ficará: a Igreja dos Apóstolos, a Igreja de Deus feito homem, a Igreja da tradição, dos Sacramentos e das preces, – a pátria espiritual para quem também escrevo.

          Alguns textos se basearão no simbolismo hermético. Entretanto, preciso dizer que o uso deste simbolismo não se dará nos seus aspectos mágico e divinatório. Não uso e não o usarei com esta finalidade. Apenas a profundidade mística deste seu simbolismo será por mim utilizada.

          O que escrevo tem a pretensão apenas de servir como fermento. Espero que este fermento possa conduzir o leitor a uma percepção ampliada do mistério católico.

            Ao encerrar, faço minhas as palavras de um católico do passado:
          “Trago em minha fronte o nome de Jesus, e morrerei com alegria pela fé que tenho nele. Não sou mágico nem herege; é a Jesus que rendo culto, é a sua cruz que trago no meu corpo”.