Os fatos não existem, existem as versões? É difícil saber, ou mesmo tentar saber, o impacto que esta frase dita por um amigo há muito tempo teve em minha vida. O que sei é que ela, além de me acompanhar por muitos anos, talvez tenha balizado toda minha caminhada nesta vida. Mesmo que muitas vezes nem soubesse, ela sempre esteve martelando em minha cabeça frases tais, como: cuidado com esta análise apressada, várias variáveis não foram contempladas, não condene (ou absolva) com tanta rapidez, você está analisando a partir de versões e não dos fatos reais, etc
Que os fatos deixam de existir no momento exato em que acontecem, e que a partir daí ficam no mundo apenas as versões do mesmo, não tenho dúvidas. Estas versões que ficam no mundo podem assumir colorações inteiramente variadas na dependência de centenas de fatores: cultura, conceitos, preconceitos, interesses, disso gosto, disso não gosto, etc
Mesmo versão de fato pessoalmente presenciado pode ser apresentada carregada de projeções que identificam muito mais o indivíduo que o narra que o fato em si. Coletivamente o fato será igual às milhares de versões que se tem dele. Individualmente, com certeza, será igual à versão que o individuo possui do mesmo. E o fato, onde está?
Talvez isso nos ajude a compreender “o não julgarás” bíblico. Pode nos ajudar, também, a entender que devemos buscar sempre a síntese mesmo entre versões aparentemente irreconciliáveis. Quando me perguntam se sou evolucionista ou criacionista sempre respondo que sou os dois. Surpreendem-se e indagam como pode ser? Apenas respondo que a síntese explica. Acredito com toda a força de meu coração que a verdade está na síntese e jamais em um dos lados da dualidade não importando quão luminoso um dos lados se apresente. Será que não é esta a mensagem que Calvário quis nos dar com o bom e o mau ladrão? Será que não cabe perguntar se, considerando este maravilhoso simbolismo, a verdade estava no bom, no mau ou no meio?
É preciso ter consciência que qualquer análise que estejamos fazendo dum fato ou de uma questão filosófica, estaremos realizando-a a partir de versões mesmo que só exista uma: a nossa.
Finalmente, uma pergunta precisa ser feita: será a mente capaz de dar respostas que não sejam apenas novas versões?