Viver segundo a graça ou segundo as energias? Será que as pessoas têm consciência da possibilidade real de poderem viver segundo a graça e não mais segundo a força da lei e das energias que despencam sobre o mundo por meio das influências dos astros? Sim, é possível fazer esta opção. Por mais de dois mil anos não só é possível não ter mais sobre a vida individual projeções das energias que cumprem a lei das plantações e colheitas como, também, a lei do oito que transporta a consciência do seis para o nove e vice-versa.
Apesar de não tê-la exercido de forma profissional, tive a astrologia durante muitos anos como foco importante de meus estudos herméticos. Confesso que muitas vezes, o indicado pelas energias projetadas pelos astros determinava acontecimentos individuais, ou coletivos, que se mostravam de acordo com o que era preconizado pela astrologia. Outras vezes, entretanto, acontecimentos cuja força primária parecia grandiosa não se projetavam, ou projetavam-se, sobre os nativos de forma leve e quase imperceptível. Qual a razão da lógica astrológica ser em determinados momentos tão exata e em outros simplesmente não funcionar? Vamos fazer juntos algumas reflexões sobre este tema.
O Papa Bento XVI em sua Encíclica SPE SALVI cita um texto de São Gregório Nazianzeno que pode ser muito esclarecedor para esta investigação. Diz São Gregório: “no momento em que os magos guiados pela estrela adoraram o Cristo, o novo rei, deu-se por encerrada a astrologia, pois agora as estrelas giram segundo a órbita determinada por Cristo”. Segundo esta afirmação “não são mais os elementos do cosmo e as leis da matéria e da evolução que, no fim das contas, governam o homem. A vida não é mais um simples produto das leis e da casualidade. Os antigos diziam: “o céu não está vazio”. Realmente não estava vazio. Do céu projetavam-se todas as influências que conduziam as vidas individuais e coletivas. Na antiguidade pouco, ou quase nada, se falava de piedade e misericórdia. Era “olho por olho, dente por dente”. Vivia-se segundo a lei e só ela importava. O que estava escrito nas estrelas, para o bem ou para o mal, era sentença, não tendência.
Será que hoje ainda é assim? As energias projetadas pelos astros continuam a determinar, de formar parcial ou total, os destinos individuais e coletivos? Esta indagação possui como resposta o título deste artigo: “Depende de cada um...”
Um reparo precisa ser feito na declaração de São Gregório: ao invés de “deu-se por encerrada a astrologia” diga-se “deu-se por encerrada a astrologia para aqueles capazes de entregar suas vidas nas mãos de Deus”. “Seja feita vossa vontade assim na terra como no céu” – não é significativa esta citação? Afinal, quantos são capazes de viver segundo o FIAT VOLUNTAS TUA, confiando a vida plenamente a Deus. Esta é a única maneira de, em nossas vidas, as estrelas passarem a “girar segundo a órbita determinada por Cristo” e não mais orbitando de forma a cumprir a lei: “olho por olho, dente por dente, rosas por rosas”. Segundo a Graça ou segundo a Lei – a escolha é sua.
Este “girar segundo a órbita determinada por Cristo”, traz como conseqüência um estado de paz que não mais se sujeita às variações determinadas pelo movimento pendular. É o descansar na unidade mesmo ainda vivendo na dualidade. É encontrar a fé e vivê-la plenamente. É viver na inabalável certeza de que nossa vida é conduzida pelo amor infinito.
O FIAT VOLUNTAS MEA e o FIAT VOLUNTAS NOSTRA colocam aqueles que vivem segundo seus princípios como reféns das energias, e por conseqüência, das influências astrais. Infelizmente, vem crescendo na humanidade um olhar sobre a vida que leva em consideração apenas a busca por resultados. Parece impossível para milhões não buscar conquistar o que nasce como fruto dos desejos. Parece impossível mesmo para muitos membros atuantes de instituições ligadas à religiosidade. A busca por resultados une de forma profana, e quase sempre mágica, o Fiat Voluntas Mea e o Fiat Voluntas Nostra. Postar-se no mundo desta maneira cria sérios vínculos com as energias e afasta as pessoas de uma vida espiritual real. É o decidir ser do mundo, prestar reverencia ao mundo e, por conseqüência, ser cobrado pelo mundo. É submeter-se aos efeitos determinados pela lei.
Grande parte da humanidade somente recebe a ação da graça de Deus sobre suas vidas, aplacando ou mesmo impedindo grandes sofrimentos, como resposta às orações da Igreja Santa e Católica, de um amigo, parente, filho, filha, pai ou mãe piedosa. Ai! O que seria de milhões sem alguém que orasse por eles? A serpente continua repetindo e milhões de humanos acreditando: “e sereis como deuses”. Se for nisso que realmente acredito, ninguém melhor do que eu para decidir o que posso ter o que posso ser e até onde posso chegar. Faça-se então: “segundo a minha, ou no máximo, segundo a nossa vontade”. Ledo engano e grave ilusão: “o mundo dá, o mundo cobra, o mundo toma”.
Será que um Deus, adorado pelos magos do oriente, que nasceu como o mais pobre dos homens – numa manjedoura – que foi coroado com uma coroa de espinhos e não de ouro, que morreu crucificado e nu mesmo tendo todos os anjos do céu à sua disposição para evitar que isso viesse a acontecer, que rejeitou no deserto todo o poder que lhe foi ofertado pelo mundo, que dizia sempre estar fazendo a vontade de seu pai que estava no céu e que disse nada possuir nem para recostar a cabeça, não fez tudo isso para ensinar o contrário do que “o sereis como deuses” preconizado pela serpente. Será que entregar-se com confiança nas mãos de Deus, agir neste mundo sem ter as ações carregadas do desejo de poder, de ter e de ser, não é o caminho indicado por este imenso sacrifício que abriu novamente a porta estreita da salvação?
A graça é soberana e está acima da lei. Quem está sob a graça de Deus não deve mais temer a lei e as energias que a instrumentalizam. “Hoje mesmo estarás comigo na casa de meu pai...” disse Cristo a um ladrão condenado, não a um homem comum.
As influências planetárias e os dias e as horas dessas influências estão submetidas a um poder superior. Só possuem livre ação sobre os que, por decisão própria, continuam a “agir como deuses”. Um poder sobrenatural exerce a primazia sobre as influências astrais das horas, dos dias e dos anos.
Para as almas voltadas ao espírito e na vida das pessoas realmente espirituais o sábado não é mais o dia de Saturno mais o dia da Santíssima Virgem, a segunda-feira não é mais o dia da Lua e sim da Santíssima Trindade, a quarta-feira não é mais o dia de Mercúrio e sim dos pastores humanos da humanidade.