domingo, 6 de junho de 2010

Com as asas de Ícaro

Assim pensa realizar vôos ilimitados parte significativa da humanidade. As crescentes realizações científicas, a ampliação das oportunidades humanas e seitas que apresentam Deus como almoxarife das requisições emanadas das determinações dos homens podem formar que tipo de consciência? É muito provável que, de forma apressada, haja superavaliações do potencial humano com drásticas e sofridas conseqüências futuras para os que assim procedem. O mais sério, é que a história de Ícaro – que pretendeu voar até o Sol com asas feitas com penas e cera, que derreteu e o derrubou - está aí como grande advertência das limitações humanas. O homem foi à Lua! Podem gritar fortemente alguns. É verdade e com certeza chegarão muito mais longe, direi eu. Suas realizações, entretanto, se darão sempre no mundo da dualidade manifestada esteja ela nada, pouco ou muito sutilizada.

Vivemos neste mundo – do tempo e da forma – mas não somos deste mundo. Nossa pátria não é aqui. Distâncias consideradas infinitas à nossa percepção nada são no mundo onde, em realidade, temos nossa pátria. Meu reino não é deste mundo - disse Jesus. Como filhos de Deus, também nós nada temos com este mundo. Estamos aqui como estrangeiros por escolha nossa. Um dia – a exemplo do Filho Pródigo – pedimos nossa parte na herança paterna e nos atiramos neste mundo. É o eu sou, o eu posso e o eu tenho que fixam a consciência dos homens no mundo da manifestação e determinam que muitos realizem o vôo de Ícaro levando milhões a abandonarem-se definitivamente ao abraço do mundo e, muitas vezes, à morte.

Longe de mim ser contra, ou mesmo passar a impressão de ser contra a ciência. Não sou e jamais serei independente de onde ela possa chegar e, com certeza, será bem mais longe de onde hoje já chegou. Sei que ela no mundo finito do limitado, do criado, da forma e das leis que a regem pode passar a impressão que nada a limite. Mas, será sempre impressão. Seus limites, entretanto, estarão sempre no domínio do finito e perecível. Daqui não passarás – repete a Sabedoria Eterna – mesmo que o ponto onde este axioma passe a ter validade esteja ainda muito distante.

A pequena ciência normalmente só acredita em si mesma. Deus não faz parte de suas meditações e muito menos de suas indagações. É ela que acredita na possibilidade de com penas coladas com cera ao próprio corpo ser possível voar até o Sol. É presunção e utopia pura. Os objetivos que persegue não precisam possuir qualquer coloração humanista. É uma espécie de jogo mental que pretende satisfazer pequenos e limitados egos. São os Ícaros modernos que tentam voar para o infinito sustentados apenas por suas limitadas mentes. Qual será o resultados deste vôo?

A grande ciência não deixa Deus e as reais necessidades humanas fora de suas preocupações e indagações. Precisa realizar, mas sabe - mesmo realizando o aparentemente impossível - que a humanidade não pode viver sem Deus. A humanidade precisa dos homens e de Deus. Já possui o amor incondicional de Deus, mas precisa do amor dos homens. A busca científica necessita levar sempre em consideração o “amai o próximo como a ti mesmo”. É este olhar para as reais necessidades humanas que pode assegurar à ciência a certeza que em seus vôos não irá esquecer a recomendação de Dédalo: para não voar tão rente o Sol.