Li alguns artigos na Internet vinculando a narrativa bíblica que envolve o Profeta Elias e a viúva de Sarepta (I Reis 17:9) à prosperidade que deve acontecer para aqueles que pagam o dízimo. Dizem que com este pagamento, o mínimo que se pode ganhar é a manutenção do pouco que se possui, no caso desta viúva “um resto de farinha e azeite”. Não vou neste artigo entrar no mérito do pagamento, ou não, do dízimo. Se assim procedesse, estaria obrigado a ser extenso tecendo comentários sobre a Velha e a Nova Aliança, o que diferencia Crença e Fé, dízimo que se paga com dinheiro ou com serviço ao próximo, a escolha pessoal envolvendo as coroas de ouro ou de espinhos e o estar submetido à Lei ou à Graça. Neste caso específico, por se tratar de uma viúva, estaria obrigado ainda a ampliar meu texto analisando determinadas passagens bíblicas – (Lucas 7,12), (Mateus 23,14), (Marcos 12,40) – para citar apenas algumas, em que Jesus demonstrava profunda piedade e compaixão pela viuvez. Não poderia ser diferente considerando-se as dificuldades de sobrevivência que cercavam a vida de uma mulher atingida pela viuvez numa sociedade extremamente paternalista como era a sociedade da época. Voltemos a Elias e a Viúva de Sarepta.
No nosso entendimento, tal episódio, e as lições e mistérios que ele encerra, não deve ser simplificado ao ponto de ser utilizado como justificativa ao pagamento de dízimos. Aliás, dízimo pago em dinheiro, considerando-se as bases estabelecidas para a Nova Aliança, precisa ser analisado de forma profunda, sem personalismos e muito criteriosa. Senão vejamos:
Em verdade vos digo: muitas viúvas havia em Israel, no tempo de Elias, quando se fechou o céu por três anos e meio e houve grande fome por toda a terra. Entretanto a nenhuma destas outras foi mandado Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia (Lucas 4,26). “eis que eu ordenei ali a uma mulher viúva que te sustente”. (I Reis 17:9). Elias não estava ali para dar, mas sim para receber. Para ser sustentado. A ação da viúva de sustentar Elias se deu por obediência a uma ordem direta de Deus – “ordenei ali a uma mulher viúva”. Não foi Elias que disse à mulher que o sustentasse. Foi o próprio Deus. E por que apenas a ela Elias foi mandado? Será que a questão do merecimento, tão contestada por muitas denominações cristãs, não precisaria ser corretamente avaliada? Porque apenas a esta viúva Elias foi mandado?
Poderíamos estender estas indagações. Por que Raquel? Por que especialmente esta viúva em Sarepta? Por que Isabel? Enfim, por que Maria? É extremamente complicado tentar explicar a questão do merecimento quando o nascimento no mundo da manifestação é confundido com o do mundo da criação. A síntese – e ela existe – entre criação e evolução nunca se processará em consciências que separam a unidade em lados irreconciliáveis. A palavra bíblica jamais se completará em consciências que não conseguem compreender o porquê da morte do Cristo entre o “bom ladrão” e o “mau ladrão” ou que vejam este acontecimento apenas como fato histórico e, fora a presença de Cristo, os outros personagens fruto de casualidade. O mesmo pode se dizer dos que não são capazes de compreender que existe uma síntese entre a Velha e a Nova Aliança, entre o Velho e o Novo Testamento e dízimos pagos com dinheiro ou com a verdadeira caridade. Talvez os versículos abaixo se proponham, também, a dar indicações de como deve ser pago o dízimo na Nova e Eterna Aliança:
“Então o Rei dirá aos que estão à direita: – Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim”. – (Mateus, 25 – 34,36)